Eu amo uma mulher de poucas palavras, que nos livros encontrou sua comunicação. Ela me acompanhou por muitos anos e em todas as fases de minha vida, também dividi com ela a paixão pelas letras. Também compartilhei com ela as surpresas os encantos e uma bela e presente solidão.
Eu amo essa mulher de voz grossa, de dedos enrugados e pescoço claro. Ela conseguiu me encantar com suas poesias e histórias. Colocando-me em seus personagens sem nem me pedir permissão - Mirian é encantadora. Uma mulher pequena e impossível. Não é portuguesa, não é francesa, muito menos brasileira. Mirian vem de um país distante, onde chove enquanto faz Sol. Mirian me fala dessa sua terra durante as noites mais longas e quentes do ano e sinto curiosidade. Será que um dia ainda irei visitá-lo?
Eu vivi uma vida com Mirian, melhor eu vivi todas. Ela me mostrou o que sempre tive dificuldade de encarar e da forma mais crua e maldosa possível. Porque Mirian é assim, sem cuidado, sem respeito, complicada demais. O que me obrigava sempre a aprender, a observar. E é tudo novo, tudo sempre muito diferente.
Mas não fui eu quem cansei. Mirian não crê em minhas promessas. Ela vive o hoje e nada mais. Sem crenças, sem pedidos divinos, sem agradecimentos. Pensa ela que Deus a esqueceu. Mirian ousou criar comigo uma das mais belas histórias. Aguentou firmemente os meus erros e acertos e foi assim. Uma bela e suntuosa balada, que nos envolveu em outonos tão laranjas quanto o horizonte num fio de tarde.
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