Condor, rapina audaz
entre os fumos frios das montanhas.
Tudo vê no branco vazio
dos picos, neste verão.
Muito abaixo, o vale.
O que há no vale?
Aflição.
O condor tudo vê
e voa entre as montanhas.
Sol não mais que claro,
a bruma frígida,
os horizontes sempre infindos.
A liberdade roça,
está embaixo das asas
neste planar,
passa lisa e ascendente
na envergadura.
Alto, alto...
além de cumes, terra...
Alto, mais alto...
à altura do sol que se põe
e perto, mais perto do sol...
mas o condor não é Ícaro
e a cada sopro
– leveza, leveza... –
há mais céu, mais luz...
a cada sopro há menos terra
e o vale é invisível risco
na crosta pétrea.
No vale
nem a sombra do condor perpassa.
Sua altura é muita
e o vale é por si mesmo sombra.
Enquanto o condor, celeste,
flutua ao vento
e na nédia luz se banha,
míseros seres, cá no vale,
cinzelam asas de pedra
no sopé de uma montanha.
15/8/2010
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