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“‘Até que a morte nos separe’ é pouco pra mim. Quero você pra sempre. Acho que nunca lhe falei isso, né? Nunca fui bom com sentimentos e essa coisa toda.
Olha, completamos um ao outro. Compreendemos nossos defeitos e abraçamos nossas qualidades.
Nossas vidas se cruzaram. Nos casamos, construímos uma vida juntos. Envelhecemos.
Porém eu nunca lhe tratei como devia. E me arrependo muito.
Me arrependo por ser tão ranzinza sem necessidade, por, por… Ah, queria mudar tanta coisa! Voltar no tempo, dizer o que você sempre quis e mereceu ouvir. Mas passou, não? Infelizmente… passou.
Sei que é loucura, porém acredito e espero que algo, bem no fundinho em você, ainda me escute. Então… me desculpa. Me perdoa por tudo.
O J., nosso neto mais novo, começou a balbuciar algumas palavras. A D., a do meio, pergunta de você. Digo que a vovó já volta.
As coisas não são as mesmas sem você.
Droga, olha eu aqui, um velho babão, chorando.
(…)
Vou voltar todos os dias, conversar com você… Nunca vou lhe abandonar. Ainda mais agora.
Você tem que sair dessa cama, desse estado, e voltar pra mim. Preciso de você, nossa família precisa de você de volta.
E-eu… Eu te amo muito, não quero perder você agora. Porém se for assim que tem que ser… saiba que eu estarei sempre com você, independente de onde você esteja, querida.
— Senhor R.? Com licença, desculpa interromper. Daqui um pouco a enfermeira vai chegar pra trocá-la.
— Oi, doutor. Tudo bem, já acabei.
— Como o senhor está?
— Ah, bem, na medida do possível… Quanto tempo ela vai ficar assim?
— Já faz tempo desde o acidente, e até agora, nada. Não tenho previsão. A contar pela idade dela… É difícil, senhor.
Senhor?
— Eu sei, eu sei… A enfermeira está vindo. Vou pegar um café. Até depois.
— Vai passar a noite aqui novamente?
— Sim, fiz isso durante 6 meses seguidos, e pretendo continuar.”
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