”O que eu acho daqui? Esse “quarto” é abafado e escuro, mas com isso já me acostumei. O cheiro de urina (não minha) é muito forte, no início me dava nojo e ânsia.
Estou em uma solitária, dentro de uma prisão. Meu crime? Bem, entro em detalhes depois.
O espaço é minúsculo, mas ao contrário do que você pensa, a sensação não é de claustrofobia, e sim de imensidão.
Só tenho uns míseros minutos de claridade quando abrem a janelinha da grande porta de ferro pra passar as refeições. É nessa hora que escrevo algumas linhas, todo dia.
Falando em refeição, a comida é péssima. À vista, parece gostosa, mas é fofa como isopor e oca como um tronco velho. É um alimento grudento e pastoso. Pelo menos é proteína, pelo menos me mantém em pé. Até porque sabor é algo que não me dou ao luxo faz alguns meses.
A hora mais esperada é justamente essa, a que pela a abertura jogam (sim, jogam) o prato. A mesma luz que me permite escrever tem o mesmo efeito de uma mão acariciando meu rosto. É bom demais, o calor é reconfortante.
No começo, a escuridão da maior parte do tempo me causava pânico. Eu não sabia se era dia ou noite. Adormecia, vencido pelo sono, e acordava minutos depois em pânico, atordoado. Com o tempo isso foi embora. Acostumei.
Agora, essa falta de luz me tira a ideia do tamanho real da solitária. Me sinto no espaço ou em um lugar infinito, e então me encolho contra a parede, apertando com força meus joelhos. Tudo isso só reforça a minha maldita solidão. Eu choro. Droga.
Passo meu tempo andando pelos pequenos 3 metros quadrados desse lugar. Tento me exercitar. Canso rápido, infelizmente. Começo a pensar em toda a minha vida… Então caio no sono.
Do que eu sinto falta? Sinto falta dos meus filhos, sinto falta da minha mulher. Por enquanto só tenho eles no meu álbum de fotos mental.
Meu nome é R., tenho 34 anos e estou cumprindo pena de 7 anos, 2 já foram. Meu tempo de solitária acho que já beira os 3 meses, o tempo mais longo já dado a um preso.
Qual foi meu crim… Merda, ouço passos, vão fechar a abertura.”
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