A confusão entre obrigação e virtude
Vivemos uma época em que alguns valores estão em descompasso com a realidade. Não creio, como alguns profetas do apocalipse, que o ser humano está pior e que o mundo regrediu em moralidade. Todavia, é inegável que alguns valores carecem serem melhor observados. Para exemplificar bem a questão tomo como exemplo a relação empresa – funcionário. Em conversas com alguns empresários e funcionários constato que:
Muitos empresários elogiam seus funcionários com frases do tipo: Este é um bom colaborador. Não se atrasa e cumpre corretamente o seu horário sem reclamar.
Do outro lado vejo alguns funcionários exclamarem admirados: A empresa em que trabalho é ótima! Não atrasa um só dia no pagamento dos salários.
Observe que os elogios acima não são para as virtudes de um ou outro, mas para as obrigações. Ora, funcionário chegar no horário é obrigação, assim como é obrigação empresa pagar em dia. Nos casos acima ninguém fez favor para ninguém. Não há virtudes, apenas mero cumprimento de um dever.
E essa confusão entre o que é virtude e o que é obrigação se espalha de tal forma que, por muitas vezes nos pegamos elogiando uma pessoa porque ela devolveu ao dono um objeto que não é seu. Atualmente quem não se apodera das coisas do outro é considerado um homem de virtudes.
Também, pudera: num país onde muitos enxergam como natural a corrupção e o “rouba mas faz” a honestidade acaba mesmo sendo exaltada.
E leia-se corrupção em suas mais diversas graduações e não apenas o desvio de dinheiro público. Funcionário que utiliza o bem da empresa para seu próprio proveito está sendo corrupto. Assim como corrupto é o empresário que se dedica às táticas de burlar o fisco ou pagar salários abaixo do que se paga no mercado.
Ora, convenhamos que ser honesto, eis aqui honestidade no sentido de não se apropriar das coisas alheias, chegar no horário correto e pagar em dia são obrigações, jamais virtudes.
Não confundamos, portanto, obrigações com virtudes.
Quando confundimos obrigações com virtudes os riscos são grandes para a sociedade. Podemos eleger, por exemplo, políticos porque são honestos e não porque são competentes administradores do patrimônio público. Os resultados são desastrosos: gente honesta mas incompetente pode causar um estrago grande. Daí a necessidade de ir além: honestidade = requisito básico. Competência = virtude. Unir os dois é fundamental.
O mesmo ocorre em nossa vida privada. Ser um cônjuge fiel é obrigação. Ser, entretanto, além de fiel uma pessoa que respeita e busca fazer a outra feliz é virtude.
Fundamental sabermos diferenciar obrigações e virtudes. Se assim o fizermos estaremos sempre elevando o nível de moralidade de nosso mundo.
Pensemos nisso!
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