A mudança de Bruno
Bruno andava cabisbaixo, triste. Desde que mudara de escola não era a mesma criança viva e esperta. A mãe o aconselhava:
- Tudo na vida muda, Bruno. Mudamos da infância para a adolescência, da adolescência para a idade adulta. Mudamos de casa, de série e também de escola, meu filho. Não fiquei triste com a mudança. Você deve aproveitar para fazer novos amigos.
Mas os conselhos da mãe não tinham efeito, pois Bruno em casa não conversava com ninguém e havia até perdido o apetite. Emagrecera alguns quilos, o que era bom por estar um pouco acima do peso, mas fora um regime forçado, sem qualquer base e por isso pegara vários resfriados por estar com seu organismo vulnerável pela falta de alimentação.
Os pais resolveram identificar a razão da mudança de comportamento do filho. Questionaram Bruno, mas ele nada respondia. Para os pais o seu silêncio tornava-se ensurdecedor.
Até que um dia, a mãe de Bruno ao deixar-lhe na escola ouviu alguns gritos quando ele descia do carro:
- Gorducho! Gorducho! Gorducho!
Não teve dúvidas. Os gritos eram endereçados ao filho.
A mãe desceu do carro e ainda assim as palavras ásperas não pararam. Descobrira, afinal, a razão da tristeza do garoto. Perguntou-lhe:
- É este o motivo de sua estranha mudança, meu filho?
- É sim, mãe – respondeu ele – Todos os dias quando chego na escola vários meninos ficam me esperando para me chamar de gorducho.
- Você não avisou à diretora?
- Tive vergonha, mãe!
A mãe então se dirigiu até o grupo de alunos e surpreendentemente apresentou-se a eles:
- Oi, sou Valquíria, mãe do Bruno. Tudo bem com vocês?
Os garotos entreolharam-se desconfiados e nada disseram.
A mãe continuou:
- Como é seu nome, perguntou a um dos garotos:
- Eu?
- Isso, você mesmo.
- Marcelinho.
- Marcelinho, qual a cor dos seus olhos?
- Castanho, respondeu ele em voz baixa.
- E você, como se chama? Perguntou a outro menino da roda.
- Gaspar.
- Qual a cor de seus olhos?
- São negros.
- Viram, meninos, disse a mãe de Bruno, vocês são diferentes um do outro, e são amigos. Não somos iguais, meninos. Deus nos criou diferentes e vamos aprendendo uns com os outros. Alguns têm olhos verdes, outros castanhos, são gordinhos, magrinhos, cabelo liso, encaracolado, isso pouco importa. O que vale é a amizade que fazemos com as pessoas.
- Senhora, disse um deles – Queremos pedir desculpas para seu filho.
- Não é preciso pedir desculpa, apenas prometam que isso não vai mais acontecer e que serão, a partir de hoje, amigos. Não se pode, meninos, praticar o Bullying.
- Bullying, o que é isso? Questionou Marcelinho.
- Bullying é constranger os outros por que são diferentes, é ridicularizá-los perante as outras pessoas, Marcelinho. Deixem de lado as diferenças de todos os tipos, meninos e, sejam amigos uns dos outros. Esqueçam o Bullying, pois todos temos direitos iguais, direitos à felicidade e a sermos tratados com respeito – respondeu-lhe Valquíria.
Os meninos, então, diante de tão simpática senhora, puseram-se a pensar em como estavam sendo rudes e mal educados com um garoto que nem sequer conheciam ao certo, mas o ridicularizavam apenas pelo seu físico.
Daquele dia em diante Bruno voltou a ser o menino alegre e sorridente que sempre fora.
Muitas vezes, uma simples conversa é capaz de abrir os olhos das crianças instruindo-as na maneira de conduzirem suas vidas.
Sem estardalhaços foi o que fez Valquíria, conversou e resolveu o problema.
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