Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
ECOS DA REALIDADE
Tânia Du Bois


     No poema “A Implosão da mentira”, de Affonso Romano de Sant’Anna, encontro a declaração da mentira como ecos da realidade.

“Mentem, sobretudo, impune/mente. / Não mentem tristes. Alegremente /
mentem. / Mentem tão nacional/mente / que acham que mentindo história
afora / vão enganar a morte eterna/mente”.

     Parece ser o que realça o poeta; aí encontro o contexto que atinge o homem em momento de pura eternidade.

     “Mentem. Mentem e calam. Mas suas frases / falam. E desfilam de tal modo
     nuas / que mesmo um cego pode ver / a verdade em trapos pelas ruas”.

     O poema abrange duas correntes críticas: de um lado, uns caminham para a mentira e, do outro, acreditam na mentira como verdade. Affonso, com o poder de toque próprio, mostra ideias abordadas na poesia, de que o homem maneja elementos de verdade e tenta dar-lhes forma e consistência, defendendo sua sobrevivência.

     “Sei que a verdade é difícil / e para alguns é clara e escura. / Mas não
     se chega à verdade / pela mentira, nem à democracia / pela ditadura”.

     Há lucidez entre verdades-mentiras e o poeta, na obra, concede a extensão das possibilidades de a poesia ser poesia, permanecendo entre nós as suas palavras e o lado “claro e escuro” que o torna ponto de referência para o caminho do leitor.
     Affonso, no poema, como manifesto, realiza uma poesia diferente, que faz sentir o espírito de uma época; ecos da realidade que ligam a arte de escrever com a arte de viver, em processo que tem por cenário a palavra mentira, como questionamento, sem perder a capacidade de acreditar.

     “Mentiram-me. Mentiram-me ontem / e hoje mentem novamente. Mentem /
     de corpo e alma, completamente. / E mentem de maneira tão pungente /
     que acho que mentem sinceramente”.

     O poema, A Implosão da Mentira, é o estado natural que une o momento à invenção da verdade, como conversa em que a mentira assume sua nossa vivência. Ele, à sua maneira, deixa marcas sobre o contexto que nos move diariamente.

     “Página branca onde escrevo. Único espaço / de verdade que me resta. Onde
     transcrevo / o arroubo, a esperança, e onde tarde / ou cedo deposito meu
     espanto e medo. / Para tanta mentira só mesmo um poema / explosivo –
     conotativo / onde o advérbio e o adjetivo não mentem / ao substantivo /
     e a rima arrebenta a frase / numa explosão da verdade. // E a mentira
     repulsiva se não explode pra fora / pra dentro explode / implosiva”.

     Ecos da realidade reflete a poesia de Sant’Anna, sensivelmente estruturada em relação à consciência e à vivência, permitindo ver a realidade e a natural reação ante a mentira. É poesia de pequenas/grandes verdades, vivíssima e atuante no leitor. Revela as mentiras reconhecidas pelo poder: o tempo dando vazão aos acontecimentos e nos ensinando a sobreviver.


Biografia:
Pedagoga. Articulista e cronista. Textos publicados em sites e blogs.Participante e colaboradora do Projeto Passo Fundo. Autora dos livros: Amantes nas Entrelinhas, O Exercício das Vozes, Autópsia do Invisível, Comércio de Ilusões, O Eco dos Objetos - cabides da memória , Arte em Movimento, Vidas Desamarradas, Entrelaços,Eles em Diferentes Dias e A Linguagem da Diferença.
Número de vezes que este texto foi lido: 59435


Outros títulos do mesmo autor

Artigos PAULO MONTEIRO reverso VERGÍLIO A. VIEIRA Tânia Du Bois
Artigos O BEIJO Tânia Du Bois
Artigos AMORES versus HORAS Tânia Du Bois
Artigos DIA DA MENTIRA (I) Tânia Du Bois
Artigos TRAÇOS INSTIGANTES: paisagens x imagens Tânia Du Bois
Artigos O reverso do momento Tânia Du Bois
Artigos CASSINO DA MAROCA Tânia Du Bois
Artigos FELIZES para SEMPRE Tânia Du Bois
Artigos AS APARÊNCIAS ENGANAM Tânia Du Bois
Artigos NADA? ESSE É O SEGREDO Tânia Du Bois

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 340.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
RECORDE ESTAS PALAVRAS... - MARCO AURÉLIO BICALHO DE ABREU CHAGAS 62441 Visitas
Fragmento-me - Condorcet Aranha 61896 Visitas
PRA LÁ DE CAIPIRA - Orlando Batista dos Santos 61666 Visitas
RODOVIA RÉGIS BITTENCOURT - BR 116 - Arnaldo Agria Huss 61574 Visitas
LIBERDADE! - MARIA APARECIDA RUFINO 61539 Visitas
Humanizar o ser humano - jecer de souza brito 61028 Visitas
ARPOS - Abacre Restaurant Point of Sale 5 - Juliano 60396 Visitas
Mulheres - Ana Maria de Souza Mello 60355 Visitas
"Fluxus" em espanhol - CRISTIANE GRANDO 60285 Visitas
É TEMPO DE NATAL! - Saulo Piva Romero 60220 Visitas

Páginas: Próxima Última