Ao cruzar a porta e o saguão de entrada, odores e sensações nos alertam que nada mais será igual ao que era antes.
A oportunidade de saber quem são as pessoas que ali vivem e o que fazem, quais são suas conquistas, quais são seus sonhos me seduz. Não como curioso voyeur, mas pela possibilidade de estar em ação direta, à disposição e junto ao “movimento” na tentativa de ampliar o coro de vozes que insistem em clamar por um planeta mais justo.
A arquitetura semidestruída se afirma como ícone de um sistema falido, segue ainda opressora e orgulhosa, mas agora, imunda e desmantelada.
Planejava uma montagem rápida, objetiva, asséptica mesmo. Uma intervenção cirúrgica, precisa. Essas certezas iniciais transformaram-se, após inúmeras subidas e descidas, em dúvida total. Todas as formas de ação previstas mostraram-se impróprias e artificiais.
Apenas alguns curtos circuitos depois é que ficou realmente clara minha egotrip e pude perceber o quanto fui ingênuo em planejar tentando antecipar uma realidade que conhecia tão palidamente.
Na reflexão sobre o que era ideal reconheci o possível.
Na ação sobre o real, só a gambiarra é uma verdade.
Augusto Citrangulo
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