Chove.
Chove intensamente.
Não sei se é noite ou se o sol está apenas escondido sobre as nuvens escuras.
Estou em São Paulo, na rua Brás Cubas, entre a rua Topázio e a João Maia. Não existe rua Topázio e sim, um lago no qual me banho. Mergulho e volto à superfície brincando, prazerosamente, indiferente à tormenta. Ainda sob a chuva torrencial, saio do meu banho e subo a encosta até a rua Brás Cubas. Protegidos da tempestade por um guarda sol, sentados em um banquinho, estão dois vigias que se divertiam assistindo meu banho e agora, acompanham admirados, minha subida. Desafiando a forte enxurrada que desce junto à sarjeta, abro meu carro e entro. Além do barulho da chuva, escuto um ruído de água dentro do carro. Ao verificar com as mãos, noto que ele está inundado com, pelo menos, um palmo de água. Mesmo assim, dou a partida e saio andando, na tentativa de voltar para casa. Para minha surpresa, a umidade embaça os vidros muito rapidamente e a chuva se intensifica, impedindo quase totalmente minha visão. Tento diminuir a velocidade e não consigo. Em uma fração de segundo imagino os freios encharcados e o seu funcionamento comprometido pelo excesso de água. Tento novamente frear, pois sei que me aproximo do cruzamento e terei que parar. Não obtenho resposta. Tudo o que vejo são as luzes distorcidas dos faróis dos outros carros, em sentido contrário, cada vez mais próximos. Abro a janela na tentativa de enxergar alguma coisa. Ponho a cabeça para fora, mas os pingos da chuva caem diretamente em meus olhos, cegando-me de maneira imprevista. Em meio à minha ansiedade percebo que o carro segue andando ainda mais rapidamente e que o cruzamento já é inevitável e uma colisão previsível.
Faço um esforço e desperto antes.
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