Estávamos em Junho, normalmente, não tínhamos chuvas nesta época do ano no Norte de minas. Nas madrugadas, fazia um frio danado, e ao amanhecer do dia, as pastagens da fazenda amanheciam cobertas por um manto branco formado pelo orvalho da madrugada. No dia anterior a noite, havia recebido ordens do meu pai, para que bem cedinho, fosse aos pastos da fazenda buscar o seu cavalo, pois haveria de precisar dele bem cedo para uma breve viagem.
Naquela época, os filhos não discutiam ordens dos pais, assim é que, logo ao amanhecer, quando dos primeiros raios de sol, apanhei um cabresto, e saí a procura dos cavalos na pastagem. Usava calças curtas, não tinha mais de 11 anos de idade, e na medida em que adentrava pelo pasto à procura dos cavalos, molhava toda a minha roupa, pela água depositada nas folhas do capim pelo orvalho da madrugada. Como as nossas terras eram muito planas, não conseguia enxergar os animais no meio do colonião, o que me obrigava, a subir numa árvore e noutra, para tentar observá-los ao longe. À mim parecia, que os cavalos estavam se escondendo de min, o que me deixava mais irritado, e de vez em quando, soltava um palavrão. Foi assim, andando de cabeça baixa pelos trilhos do gado, e soltando alguns palavrões, que me aproximei de uma velha cerca de toras, construído na divisa da fazenda do meu pai com a do vizinho. Ao margeá-la pela face interna, observei, que havia um homem de pé sobre ela, observando aos meus movimentos. Lembro-me, tratar-se de um senhor alto, de pele clara, vestia uma espécime de macacão todo branco, permanecia de braços cruzados, seus olhos estavam vermelhos como duas brasas de fogo, e acompanhava meus movimentos com o seu olhar.
Como estava chateado de tanto molhar a roupa, passar frio, e por não encontrar os cavalos, não dei muita importância quanto a presença dele, mas mesmo assim, como era o nosso costume, tomei a sua benção e não observei se ele respondeu ou não.Tão logo andei por uns 50 metros, meus pensamentos que estavam desconexos, agora lembrava que havia algo de estranho no ár. Aquele nosso vizinho, não havia morrido há cerca de 15 dias? Eu tinha ouvido dizer que sim. Olhei de volta para a cerca, exatamente para o ponto onde o havia visto naquele pouco instante, e lá não mais havia ninguém. Estava tudo sereno e tranqüilo. Meio ressabiado, larguei a busca pelos cavalos, e corri tão depressa quanto minhas pernas suportaram de volta para casa, quando relatei
os fatos acontecidos para meus pais. Meu pai me disse, que era verdade mesmo, nosso vizinho havia falecido há cerca de quinze dias. Todavia, achava ele, que tudo não passava de bobagem minha - que estas coisas não mais existiam naqueles dias -, que a imagem que eu havia visto, não passava de uma ilusão de ótica. Já a minha mãe, que era católica fervorosa, acreditou em min, e disse-me, que a culpa de ter atraído aquele tipo de visagem era minha mesmo, que ao sair blasfemando pelo pasto e falando palavrões, acabei por atrair espíritos inferiores para a minha companhia.
João carlos de Oliveira
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