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Há momentos na vida que a certeza do que as pessoas pensam de nós nos provocam dor, rancor e sentimentos de vingança ocupam a mente. O espelho a minha frente não deixa enganar, é igual aos olhos daqueles que me vêem. É fácil percebe o quanto são falsos os sorrisos de afabilidade de certas criaturas.
Ser diferente nem sempre é uma opção; pode ser uma imposição das circunstâncias, sejas elas naturais ou não. Aos olhos de muitas pessoas, tudo é determinado por nossa vontade, por nossas escolhas. Será assim mesmo? Aquele que acredita em Deus, de forma diferente da maioria ou de uma minoria de pessoas, sempre é tido como amo de Criaturas Diabólicas, merecendo a fogueira das Santas Religiões. As pessoas com opção partidária divergente são consideradas subvertedores da ordem, não desejam o bem estar da sociedade e devem ser perseguidas até o aniquilamento. Os homossexuais são a própria personalização do mal, nos fazem rir nos teatros, na televisão, entretanto, não são respeitados nas ruas, na farmácia, no hospital, na delegacia, nos tribunais. E o que dizer dos deficientes físicos, os aleijados, os tortos, os deformados. Estes são reduzidos a condição de animais rastejantes; não têm direitos à dignidade, a ocuparem cargos relevantes nos Governos, a subirem num ônibus, a trafegar nas ruas, a comprar nas lojas dos grandes magazines, são fardos pesados aos olhos da sociedade, merecem a piedade que constrange que diminuiu. Mas o mundo sempre foi assim!
Conheço uma pessoa de minha rede de relacionamentos profissionais (Vou chamá-la de Lucrecia Amita) que se julga superior a todos, arroga-se o direito de criticar livremente tudo aquilo que acha incoerente, diferente do que ela considera normal. O ser diferente para a mesma ofende a sua mediocridade.
Lucrecia Amita é um tipinho comum, sem qualquer atrativo físico e espiritual. Veste-se como se estivesse sempre preparada para trabalhar na Praça do Palácio do Comercio; grita ao falar como se fosse vendedora de peixe do Desterro. Parece-me ser uma pessoa feliz, sobretudo, quando alardeia suas impressões e sentimentos mesquinhos. Nuca sorrir, talvez o motivo seja por esconder as próteses dentárias feitas com carinho por alguma alma caridosa que em pagamento a alguma penitencia preencheu aquela boca de serpente do deserto com dentes brancos como se fosse à neve. A estatura mediana esconde o gigantismo de uma alma sóbria, fugaz.
Às vezes, penso com seria Lucrecia Amita se essa acreditasse num Deus sem forma, sem cor, sem raça, sem prefixos e sufixos, num Deus, simplesmente, Deus, senhor da Luz Eterna e Soberano que reina sobre as trevas da Ignorância e do desamor. Como seria essa criatura se a mesma pudesse rir, sem deixar cair os parafusos que fixam as pecas dentarias na boca, se deixasse de rastejar na existência como verme. Que fosse digna de ser chamada de amiga, companheira, que tivesse um escudo de luz a proteger os seus semelhantes. Que deixasse as pessoas serem como são. Que pudesse amar; simplesmente, amar, naturalmente, amar. Não há necessidade de Lucrecia se tornar numa Nossa Senhora de Fátima, numa Santa Marta, ou num Irma Dulce.
Que o Pai Abatalá a condene a voltar inúmeras vezes ao mundo da carne, até o fim dos tempos humanos. Amem.
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