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Monólogo
Ariel Dorfey

Ela, enfurecida, olhava para si mesma no espelho. Imóvel, em seu quarto, diante de si, perguntava-se como uma imagem lhe poderia ser tão vulgar quanto a que contemplava naquele momento.
     A mulher presa no espelho lhe parecia fútil, desonesta e indigna de tudo que a vida a havia concedido. Então, ela, a mulher de fora do vidro, pela primeira vez teve coragem de falar com a imagem diante de si:
    - Você não se parece em nada comigo...
    - Eu sou exatamente você - respondeu a imagem.
    Assim, ela calou-se, e ficou a espera de uma outra resposta da mulher a sua frente, mas nada aconteceu. Ela se movia e a mulher à sua frente se movia também, em uma perfeita imitação de seus gestos.
      Por ainda continuarem em silêncio, resolveu defender-se:
    - Eu não sou assim, nunca fui assim
    - Você é exatamente quem eu sou
    - Eu não sou você! - gritou furiosamente.
    - Olhe para mim ! - ordenou - É como olhar para você, eu fui feita à sua imagem!
    - Eu não sou você!
    - Então quem é você ?
    Fez-se um longo silêncio, até que a voz do espelho tornou a dizer:
    - Olhe para você, ou para mim... Olhe para nós e veja quem nos tornamos. Não passamos mais de uma figura invejavel e um coração vazio
    - Não me compare a você!
    - Não é preciso, eu sou você
    - Não, não é. Eu não sou infeliz!
    - É claro que é infeliz! A que preço você alcançou a vida por você tão desejada, que logo descobriu que não passa de solidão?
    - A nenhum preço
    - Não tente me enganar, não queira enganar a si mesma. Nós sabemos bem quanto custou a sua alma
    - Não! - gritou ela.
    - Sim
    - Você não sabe, não sabe nada sobre mim! - continuou a gritar
    - Então quem é você ?
    - Eu não preciso provar nada pra você!
    - Na verdade, você precisa sim, pra mim, pra você e pra todos os outros
    - Não preciso!
    - Então por que está tentando provar algo para mim exatamente agora?
    Ela, bruscamente retirou o espelho da parede e o jogou no chão, a fim de sufocar a voz que lhe atormentava. Depois que o estrondo da quebra do vidro se calou, para ela, naquele quarto, havia apenas o silêncio, a noite e mais nada.




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