O pregador estava a pregar pregos
e disse:
- Fé em Deus e pregos na tábua
e a tábua nunca mais será a mesma.
Um pouco depois,
cansado de martelar os pregos,
deu a martelada em falso,
martelada torta,
e viu o prego de cabeça torta,
com o corpo torto,
e de olhos nele,
como se estivesse
a recriminá-lo.
O pregador não teve dúvidas,
lançou mão do martelo e do prego,
e se pôs
a desentortá-lo.
Invejáveis eram a forma,
o modo, o jeito e a habilidade
do pregador para realizar tal tarefa.
Manejava o martelo e o prego
com incomum propriedade.
Então, veio e me disse:
- Veja, meu amigo,
assim é a vida do bom pregador,
uma verdadeira arte.
Não basta pregar até vir o cansaço,
é necessário, também,
saber desentortar pregos
e pregá-los novamente na tábua.
Disse isto
e pôs-se a pregar outra vez,
coroando a sua pregação
com a seguinte frase:
- O ato de pregar, meu amigo,
é uma arte. A arte supera a vida,
vai além, transcende.
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Biografia: Tércio Sthal, Natural de Tupã, SP, Poeta e Escritor, MBA em Gestão de Pessoas, Cadeira de nº 28 da Academia Nacional de Letras do Portal do Poeta Brasileiro, com publicações em coletâneas da Shan Editores, Autor de a Cidade das Águas Azuis e O Menino do Dedo Torto, Do Abstrato ao Adjacente, Inferências, Referências e Preferências em http://bookess.com e Lâminas e Recortes em Widbook.com
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