Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
O MISTÉRIO DA PORTA
Hélio Sena

O cartaz, na verdade, é simplesmente uma folha de papel ofício deitada e manuscrita com letras maiúsculas e desenxabidas:

PRECISA-SE DE UM CONTO.
É URGENTE!
PAGA-SE O QUE FOR DE DIREITO...

Surpresa. Aguçamento.
Duas da tarde. O sol tinindo. A rua deserta... Devo ir embora?
Mas estou faminto e cadê tostão... Toco a campainha. Três vezes. O sujeito que atende (terno preto e óculos escuros) é a cara do Tommy Lee Jones; já o bigodinho é da Adriana Calcanhotto – se ela tivesse bigode.
“Vim pelo anúncio...”
“Ah! Pensei que fosse pela Rainha da Inglaterra... Venha comigo.”
Pasmo, já entro num elevador.
O bicho, veloz, não sei se sobe ou se desce.
Aí, de repente, pára com um sacolejão!
Susto baita. Vixe!
O estranho não disfarça um risinho de deboche:
“Calma, isso é normal. Me acompanhe.”
Agora uma sala vazia. Um breve corredor. Outra sala, esta toda mobiliada. Outro corredor, este longo e sem qualquer saída lateral.
Ao final do corredor, uma porta – creio que de nuvem...
O homem tira seus óculos escuros; me encara:
“Entre aí. Seja cuidadoso! Eu sou filho da Arte. Exijo autenticidade. O lado mais verdadeiro de cada um. Boa sorte!”
Ele torna a pôr os óculos, escarra na parede e pega o caminho de volta.
Eu respiro fundo e mergulho no mistério daquela porta... E me vejo numa espécie de galpão – enorme, fechado, iluminadíssimo. Ali, cerca de 90 homens. Nenhum percebe minha chegada?
Um “alegre” se aproxima balangando:
“Olá, meu nome é Peter. O seu é...?”
Digo um nome falso, não sei por quê:
“Félix.”
“Olha, Félix, naquele baú – tá vendo? – tem papel e caneta. E não esqueça: meu nome é Peter. Bye!”
Só nesse momento me dou conta de que os homens estão todos escrevendo – uns em pé, outros sentados em girassóis de Van Gogh, outros acocorados; há uns poucos no telhado, pendurados como morcegos...
Pego folha e caneta no baú.
Uma confortável poltrona-do-papai se materializa bem na minha frente!
Ora, tomo assento.
Daí a pouco, adentra um frangote de uns 14, 15 anos. Boné ao contrário e tênis horrorosos. Claro. Sua presença é ignorada. Vou até ele:
“Ei, naquele baú tem papel e caneta.”
“O quê?”
“Papel e caneta, seu burro. Naquele baú.”
“...”
Volto para o meu canto. Para o meu conto.
A caneta veleja. As palavras não se negam. Escrevo com grande excitação!
Penso:
“Sou o contista MÁXIMO do Brasil, talvez até do mundo inteiro!”

...MAS, QUE VOZERIO DESGRAÇADO É ESSE NA MINHA CABEÇA PROCLAMANDO QUE AQUELE DALTON DE CURITIBA É IMBATÍVEL, Ó DEUS???...


Biografia:
Professor e escritor. E-mail: ruffustargum@gmail.com
Número de vezes que este texto foi lido: 61421


Outros títulos do mesmo autor

Contos UM BIQUÍNI SELVAGEM Hélio Sena
Contos MEU FILHO, MEU PAI Hélio Sena
Contos BONECA DE PANO Hélio Sena
Poesias INSÔNIA Hélio Sena
Poesias OS HOMENS DIANTE DA DISTANTE AURORA Hélio Sena
Contos O MISTÉRIO DA PORTA Hélio Sena
Contos E AGORA, JOÃO??? Hélio Sena
Contos APROFUNDANDO SHAKESPEARE Hélio Sena
Contos COISAS DO OUTONO Hélio Sena


Publicações de número 1 até 9 de um total de 9.


escrita@komedi.com.br © 2025
 
  Textos mais lidos
Jornada pela falha - José Raphael Daher 61502 Visitas
Sacra analogia do drama - Flora Fernweh 61498 Visitas
CORDEL DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE - Manoel Messias Belizario Neto 61496 Visitas
Hoje - Waly Salomão (in memorian) 61496 Visitas
Jazz (ou Música e Tomates) - Sérgio Vale 61494 Visitas
sei quem sou? - 61490 Visitas
A ELA - Machado de Assis 61489 Visitas
Tirem-me daqui! - Cláudio Thomás Bornstein 61488 Visitas
Mulheres - Ana Maria de Souza Mello 61488 Visitas
O estranho morador da casa 7 - Condorcet Aranha 61488 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última