Resumo: "A dança do chapéu. Na plataforma A, uma neutralização – nem partida nem retorno, nem vôo nem estático. Neutro. Nulo. Um tempo zero. Estrada rígida, móvel imóvel. Líquido sólido, sólido líquido, amor ódio, ódio que é amor. Na estrada, pedras macias, terra endurecida, água sólida, nuvem líquida. A dança do chapéu..." |
|
Na rodoviária todas as lágrimas, todas as rotas, todos os retornos, todas as partidas. A dança do chapéu. Na plataforma A, uma neutralização – nem partida nem retorno, nem vôo nem estático. Neutro. Nulo. Um tempo zero. Estrada rígida, móvel imóvel. Líquido sólido, sólido líquido, amor ódio, ódio que é amor. Na estrada, pedras macias, terra endurecida, água sólida, nuvem líquida. A dança do chapéu. Na rodoviária um estado de purgatório, nem inferno nem céu, nem ida, nem vinda, estáticos, cristais de sal. A água não dilui o verbo dinamizar. Na rodoviária, um tempo zero, um igualar andanças. Tanto confiança e desconfiança na dança do chapéu. As lágrimas retidas na bica. A voz retida na clavícula. O grito contido no chapéu. A dança do chapéu. Os braços para trás, com dezenas de fraturas. As pernas em posição invertida. Os pés para trás na estrada do zero. Os olhos embutidos em cavernas de vulcões extintos. A boca soterrada na garganta do lobo. As narinas fechadas. Um breve espaço no tempo, uma lacuna, uma pinça de ácido inoxidável. A dança do chapéu. As pias de couro cabeludo e as passadeiras de sangue. A estrada da vida parte da rodoviária e os homens dançam com chapéus nas mãos...
A dança do chapéu (Theresa Russo)
|