Aparentemente, aquela parecia ser uma noite calma. A Lua flutuava na fase nova entre algumas nuvens que teimavam por encobri-la. Nossos olhares se ergueram como que extasiados pelo fascínio da cor prata que refletia um brilho especial na nossa retina.
Aparentemente era isso. Tudo muito belo e envolvente, porém, em dado momento, bem próximo ao satélite, um objeto surgia com os mesmos moldes lunares.
- Uma segunda Lua? Luas gêmeas?
Os que estavam com os olhos voltados à amplidão começaram a se preocupar. O fac-símile começou a se deslocar ora para a direita, ora para a esquerda e as vezes aumentava sua circunferência, dando-nos a impressão de que se aproximava da Terra.
Quando isso sucedia, ouvia-se um rumor, ao longe, do povo assustado. Era medo? Histeria coletiva? Confesso que, para mim, era um medo que aparentava.
De repente, aquela suposta lua foi modificando o aspecto e ao praticar um vôo rasante mostrou que não revelava tranqüilidade. Numa de suas investidas, arremeteu-se violentamente derrubando postes e árvores, deixando em sua passagem um rasto de fogo, tal qual cometas milenares.
Nas ruas, o rumor e o escarcéu dos cavalos chamaram a atenção: Sobre seus dorsos cavalgavam crianças de cor e raças diferentes, gritando para que abríssemos caminho. Centenas de corcéis carregando crianças que passavam e que não olhavam para traz...
Lembrei da fúria do “Katrina”, da invasão do “Tsunami”, das grandes hecatombes da natureza e pensei: Será o fim dos tempos?
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Por fim, acordei. Revirei-me na cama, puxei o cobertor, ajeitei o travesseiro e vi que o relógio ainda me dava uma hora para continuar meu sono para depois sair e trabalhar.
Durante a manhã, comecei matutar:
A Terra está cheia de gente ultrapassada, propensa ao sinistro do fogo que vem de fontes depuradas? O mundo está cheio de crápulas, manchado por uma escória política que precisa se renovar. E os cavalos? Estariam representando uma tração animal, ligeira e vigorosa, disposta a impulsar uma mente criança ao caminho reto e comunitário?
Ficou no ar uma pergunta, cuja a resposta também.
É preciso sonhar para mudar as coisas? As vezes sim, as vezes não porque, enquanto estivermos no transe dormescente, o mundo não nos abrigará das intempéries e das políticas mal traçadas pelos homens.
Curitiba - Janeiro/2005
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