Com um ou dois anos de idade, o ser humano pereceria se deixado às condições naturais sem a supervisão de adultos. Diferentemente dos demais animais que, provavelmente, sobreviveriam em função de uma genética mais adequada. O ser humano é e sempre será frágil em sua natureza. Essa fragilidade biológica e psíquica faz com que o ser humano procure, ao longo do seu itinerário, buscar modelos e padrões que lhe dêem um certo conforto e diminuam seus medos e desesperanças. Esse padrão de comportamento cria o que chamamos de paradigma, ou seja, um modelo mental a ser perseguido com base nas experiências que deram certo ou que proporcionaram algum prazer em determinado momento da vida. Somos naturalmente empíricos. Carregamos esses paradigmas pela vida toda, por vezes acrescentando algumas atitudes e comportamentos mais contemporâneos.
Assim, desde os homens das cavernas até os executivos modernos, seguimos os paradigmas criados para sobreviver e dar prazer e: agimos, decidimos, empreendemos, criamos etc, de acordo com os modelos mentais que nos dão conforto e segurança. “Quebrar” esses paradigmas exige do ser humano mais do que vontade apenas. Exige uma reflexão profunda das origens dos mesmos e a certeza de que podemos sobreviver com novos paradigmas e não apenas com modificações dos paradigmas anteriores. Isso é um exercício difícil e que poucos conseguem.
Se você perguntar para todo mundo sobre a poluição, cerca de 99,99% das pessoas sabem do que se trata e têm uma noção razoável de que é prejudicial a todo o planeta.
Por que, então, as pessoas não mudam de atitude e param de poluir?
No meu entendimento é em virtude do “paradigma de propriedade individual”, ou seja, nós entendemos que é “nosso” apenas aquilo nos pertence por termos comprado, ganho etc. No quintal da minha casa, ou na sala do meu apartamento eu dificilmente jogo lixo de forma constante e deliberada. Não faço isso, pois essas coisas me “pertencem” literalmente. Já a rua, o rio, o mar, o mato etc, não são “efetivamente” meu ou de minha família. Esses outros “territórios”, de certa forma e de acordo com meu paradigma, não me pertencem e não me sinto como pertencido a eles.
Transformar o “paradigma de propriedade individual” em “paradigma de propriedade coletiva” não é apenas mudar o nome e/ou acrescentar alguma coisa no paradigma anterior. Exige uma reflexão profunda sobre como foi construído o paradigma da propriedade individual na história da humanidade e como devemos mudar o modelo mental, inserindo o “sentimento de pertencimento” ao todo de forma literal e verdadeira. Assim, no exemplo da poluição, devemos pensar que, somente se eu ampliar o meu sentido de propriedade é que poderemos mudar o paradigma atual. Veja bem, não é mudando o sentido do individual para o coletivo e sim ampliando o sentido de propriedade é que poderemos parar de jogar lixo nas “nossas propriedades”.
Temos que nos sentir “donos” de tudo para não deixarmos que nós mesmos façamos coisas ruins para nós mesmos. É rompendo o paradigma anterior que teremos chances concretas de mudar efetivamente.
Xiko Acis
Filósofo & Consultor
www.xikoacis.com.br
Verão/2010.
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