TIQUE-TIQUE DOS PEIXES
Suas memórias ficam irrelevantes, não causa mal estar ao ano que se inicia. Atira-se numa grande estação de primaveras. No passeio solitário. A descoberta de coisas que ficaram escondidas nos lugares que não soube colocar para fora, cicatrizes aqui e ali num silêncio mortal. Fixa a caixa ou casca humana que vai além de si mesma, na esperança de não falhar.
Os que passaram em sua vida foram muitos: Seu pai de natureza sóbria, serena, porém severo sem exagero, relevante aos extremos, sempre com um oceano amistoso, pouca fala caloroso e protetor. Comunicação, mais por gestos do que palavras. A conduzi-la através dos caminhos e lugares existentes em sua vida...
Sexta-feira da paixão comia peixe, quando lembrou do pai a ensinar fazer tique-tique. Para o sal entranhar. Chorou... A volta da mão esquerda sem jeito a tentar demonstrar. E suas lágrimas pingaram no prato que comia, no entanto sorriu. Ao lembrar. Com sua mão de criança, aprendeu, passou os dedos nos tique-tique, sendo imediatamente aprovada. Saboreava o peixe, com água nos olhos e a boca seca. Colosso a (adolescente) que nessa hora se aproximou saboreando também. Nessa época rápida como um raio, não tinha tempo a perder. Ainda assim não esquecia o doce de laranja da terra, a canjica de grandes grãos e o bolo de caldo de laranja e glacê com sabor de limão para ela símbolo da Páscoa, que aprendeu a fazer com dona Zeli filha de sua madrinha.
Aos sessenta anos, sentindo muitas dores nas pernas, pensou quem lavaria seus pés? Assim como lavou os dele, banho com suaves ensaboadas em seu todo corpo, após ter cortado cabelo, feito o a barba aparado o bigode. Após o banho o enxugava, vestia-o, por último a limpeza e o corte das unhas. Para saborear o peixe que tanto gostava e que tempos atrás tarrafeou no Rio Paraíba do Sul em S. Fidelis. Tanto o conhecia que podia comentar com certa primazia...
Foi uma borboleta hoje uma lagarta a se arrastar, com passadas pequeninas, como o tique-tique que no peixe aprendeu, para fazer as mesmas tarefas...
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