Os homens têm fome.
Eles estão à espreita, espertos,
de olhos murchos e dormentes,
ávidos, pungentes e sofridos.
São lírios cujas pétalas jazem incólumes ao chão.
E soluçam felizes, da dor, do pranto,
do tormento e da esperança,
dessa migalha que mata aos poucos,
dos frangalhos, dos desejos.
E de toda a sorte e de todo o jeito
e de toda a lama que escorre junto ao peito,
do leite, da pequena chama
e seus olhares, seus queixumes e suas feridas,
sua fétida fadiga.
Os homens têm sede.
E eles vão às ruas, nos lugares, nos estádios,
onde haja parto, em toda a parte.
E choram por dentro sem remorso.
E não há soluço, não há mais pulso;
nem mesmo um murro lhes dá compasso.
E assim, proibidamente desumanizados,
feito asnos,
ainda exposta é a ferida,
e passam dias, e passam anos.
E não há quem cuide.
Já não se deseja água, mas, alma.
Ninguém deseja refresco, mas, respeito.
E que a vida faça sentido, lhes dê norte,
sem vacilos nem tropeços, verdade,
dignidade, amparo e direitos: um grito!
Para acordar os que dormem.
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