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Resenha do livro Latim em Pó
Flora Fernweh

Sobre este livro, sou suspeita para falar, porque sou amante da Língua Portuguesa, inculta e bela. E ainda que eu fosse estrangeira, costumo dizer que eu me empenharia em aprender o português, a língua mais saudosa entre todas as que existem. Estou escrevendo isso porque o livro não é um manual para aprender latim, e sequer é enfadonho a ponto de esmiuçar o tema da gramática latina, que legou ao mundo um tesouro românico e mudou os rumos da civilização ocidental. A pretensão deste livro de leitura fluida é, na verdade, explorar os meandros da formação do português enquanto uma língua abrasileirada, pensando-se a sua formação social e cultural, de modo que indico enfaticamente a leitura àqueles sobre os quais recai o assombroso fascínio da última Flor do Lácio.

Uma curiosidade sobre o meu contato com a língua é que tive a oportunidade de cursar a disciplina de Latim I na universidade, no departamento de Língua e Literatura Vernácula. Foi uma experiência engrandecedora aventurar-me pelas letras clássicas. Pude me deparar com o rigor da gramática, com a sua cadência, seu estilo, seu ritmo, com certa ajuda desbravei alguns excertos adaptados dos textos de Virgílio, Ovídio, das aululárias de Plauto e até mesmo da rerum novarum e de algumas célebres frases da filosofia estoica... tudo isso contribuiu ainda mais para a minha inata predileção pela leitura e, principalmente, pela escrita.

Mas retornando ao livro do professor Caetano W. Galindo, surpreendi-me pelo seu teor disruptivo, que encanta pela escrita acessível e pela desmistificação da pompa erudita. Logo de início, deparamo-nos com um caetanar (nada mais previsível, tratando-se da miscigenação linguística bastante aprofundada pelo autor na obra e da referência ao seu xará musical). Nomeando alguns de seus capítulos a partir da criativa música Língua, que se tornou inconfundível na voz de Caetano Veloso, grande poeta da linguagem, preocupa-se o autor em assumir a literatura para além da letra escrita, embrenhando-se na gênese do português, em sua recepção pelo Brasil e nas profundas mudanças advindas das mais variadas influências étnicas, nos conduzindo à compreensão de que não sem razão, é a nossa língua um patrimônio imaterial.

Perdoem-me sobretudo o meu conservadorismo quanto à Língua Portuguesa, mas compartilho da repugnância à linguagem neutra e a pleonasmos de fala que se equivocam em tentar incluir o feminino onde não lhe cabe. É certo que a língua varia com o tempo e com as condições sociais que exigem uma adaptação do idioma, mas é preciso conhecer as suas razões retornando ao conhecimento latino, a partir do qual derivou a estrutura nuclear do português. Por outro lado, reconheço a riqueza da diversidade que povoa a nossa forma de expressar os pensamentos, uma vez que a língua viva passa constantemente por transformações, cujo cerne e cuja origem são muito bem delineados no livro em questão, nos levando a um território longínquo até a contemporaneidade da Linguagem que desfrutamos, com suas aquisições, revogações e permanências.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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