Deus me vestiu de força.
Me deu de presente um torrão.
Escolheu com maestria
Me mandou para o sertão.
Cá estou, usando cada gota de valentia
Sendo força na fraqueza
Vencendo a tristeza
Que não se esconde, que dá a cara, de dia.
De noite, se posso, paro
Não há tempo para melancolia.
No máximo desamparo
A alma em agonia:
Sou o irmão, com pouco ou nada para comer
Sou o verde, sem água para beber.
Sou a lágrima não vista
Derramada pelo bicho caído
Sua fraqueza, sua dor.
Sou a fome, no olhar do abandono.
Sufoco porque respiro amor.
Me levanto, me recomponho.
A escuridão não é meu lar.
Sou feita de sol e de chão
O sertão é meu lugar.
Não é de tristeza que me alimento
Meu sustento é o sorrir.
Sonho, faço, acredito
A bonança está por vir.
Sou, de pé, Fé
E a ela eu conheço bem.
Sou a reza, a gratidão
Sou a prece que a Ele convém.
Sou o milagre, de joelho dobrado
Sou a esperança.
A criança de colo, em Seu peito, colado.
Sou aquela que não cansa.
Adormeço
Acordo os sonhos mais comuns.
Me faço regaço para alma, acolhida para o coração
Me faço bondade, acalanto, me canto uma canção.
Enquanto dormindo, sou fartura, sou verde
Sou compaixão.
O dia acorda, meu sustento? Um sorriso.
Cantarolando sou apelo ao meu paraíso
Sou feita de sol e de chão
Criada no sertão
Dele não saio, dele não desisto.
Ainda que lhe goste muito
Lhe peço maior brandura:
Não seja, em dia, tão severo
Não tenha a mão tão dura.
Convide as nuvens para dançar
Deixar cair esperança sobre meu povo.
Sobre o povo que não pede muito
Só o sustento
Que sabe ser alegre, grato
Sem lamento
Povo que tem na chuva
O verdejar da confiança
O seu alento.
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