Santo Antônio, santo milagreiro
Quem já visitou a igreja matriz de santo Antônio na cidade de Ubaitaba, Bahia, com certeza já deve ter se encantado com aquela imagem imensa do santo casamenteiro, padroeiro daquela cidade. Lembro-me que certa vez o sacerdote Neilton levou aquela linda imagem para ser restaurada na cidade de Cairu, cidade esta que tinha grandes restauradores de imagens. E após restauração foi um alvoroço danado para ver o santo da cidade de cara nova. As cores realçadas de sua batina marrom, seu cordão branco amarrado na cintura ganharam vida, sua coroa de prata com mais brilho, isto sem falar no menino Jesus com sua veste branca renovada. E eis que o trezenário se inicia, com as missas superlotadas. Dezenas de pessoas faziam fila para tocar nos pés de santo Antônio. E quando a missa acabava, cabia ao sacristão fechar a igreja, guardar os materiais litúrgicos e descansar para o dia seguinte. Mas algo instigou o sacristão naquela noite. O que o povo tanto colocava ao tocar os pés de Santo Antônio? Aproveitando que a igreja estava vazia, aproximou-se da imagem do santo, colocando uma cadeira para tentar alcançar os pés do santo. E ao correr a mão, várias moedinhas de cinquenta centavo e de um real caíram ao chão. O sacristão ainda assustado com tal barulho percebeu que era o som de moedas caindo. E ao contar moeda por moeda, somou uma quantia de quatro reais e cinquenta centavos. E eis que o dilema shakespeariano começa tomar conta da cabeça do sacristão. To be mine or not to be mine. O sacristão sentou, refletiu um pouco e percebera que as únicas testemunhas que poderiam lhe delatar eram: o próprio santo Antônio, são Bartolomeu, sagrado coração de Jesus e nossa senhora das dores. E pensou: eles veem, mas não falam. E certamente devem saber da minha dificuldade na escola quando não tem merenda e tenho que ficar na sala para não ver alguns colegas abastados comprarem aquele cachorro quente com suco, na porta do Polivalente. Enquanto fico a salivar querendo pedir um pedaço. Acho que santo Antônio ouviu as minhas preces. E a partir daquele dia, nunca mais me faltou lanche, bastava correr a mão nos pés do santo e ele me fornecia o suficiente para lanchar. Eita santo milagreiro.
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