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O CORONAVIRUS E OS IDOSOS
n-
SUELI COUTO ROSA

Resumo:
UM DESABAFO DE UMA IDOSA NO INÍCIO DA PANDEMIA. VALE ATÉ AGORA.

O CORONAVIRUS E OS IDOSOS

Se me perguntam se sou a favor do isolamento social em casos de pandemia sempre direi que sim. Não só dos idosos e pessoas com riscos de saúde, mas para todos os cidadãos. Isolar os contaminados, assintomáticos ou não, é fundamental em casos de pandemia. Os estudos científicos e a história o comprovam.
Entretanto, parece que há uma discriminação injusta e pouco assumida pelos governantes e autoridades de saúde, que acabam por fazer com que os idosos e pessoas com alguma doença crônica paguem um alto preço emocional, mesmo nesta altura de sua vida. Somos vistos como se fôssemos os responsáveis por ameaçar o sistema de saúde de um território e por isto merecemos ser isolados.
Os idosos, principalmente, mesmo que ainda sem contágio, tornam-se prisioneiros compulsórios, condenados a estarem em suas casas, sozinhos ou com cuidadores que mal podem se aproximar fisicamente. São forçados a abdicar praticamente de tudo que representava sua fonte de apoio e energia emocional: o contato com filhos, netos, amigos.
Acredito que a maioria o faz com coragem e determinação, por amor aos seus e pelo autocuidado. Passam, muitos deles, a serem autossuficientes cuidando de sua alimentação, da higiene pessoal e da casa. Não saem para nada, nem mesmo ao supermercado e limitam sua vida e necessidades para não incomodar os filhos. Aqueles que ainda estão com a família são também isolados, tendo que permanecer distanciados dos demais. Como se sentem, alguém já parou para perguntar?
Mas a questão mais importante para eles, os idosos e demais segregados, é saber até quando? Para mim está claro que, para os governantes, o isolamento desta categoria de cidadãos não está focada nas necessidades deles, mas sim no medo do caos e colapso do sistema de saúde do país. Porém, a questão de fundo é: não cuidaram do sistema de saúde, não preveniram para situações como esta e temem, inclusive, que o colapso do sistema os atinja politica e economicamente. Deixam claro que os idosos e demais pessoas de risco devem se isolar primeiro e serem os últimos a sair porque não fazem falta para a sociedade.
Esquecem que estas pessoas idosas são cidadãos e que os mais velhos contribuíram e ainda contribuem para o país. Trabalharam, pagaram impostos, construíram famílias, educaram e consolidaram valores sociais, além do que muitos ainda sustentam a família com sua aposentadoria. Mereciam um pouco mais de respeito neste momento. Não é fácil ouvir que é preciso isolar os idosos porque se todos adoecerem vão gerar um colapso no sistema de saúde. È assim que me sinto quando ouço que a prioridade é o sistema, é a economia do país e mesmo, como disse uma autoridade, “morrer, todos vão morrer mesmo um dia”. Portanto, porque investir tanto em garantir a vida de um idoso?
Faço isolamento, tenho um bom plano de saúde e mesmo assim não estou segura, porque não sei se quando sair de casa, quando terminar o isolamento social, não poderei ser contaminada por uma pessoa assintomática. Tanto alarde para impedir o caos do sistema e nenhum cuidado efetivo para saber quem realmente pode ser o transmissor.
Portanto, penso que a proposta do sistema de saúde parte de um princípio equivocado. È importante cuidar dos contaminados, mas também, o mais importante, é identificar os hospedeiros assintomáticos do vírus, para que as famílias e a população possam viver, mesmo que isoladas, mas com um sentido de futuro. Porque os testes só estão sendo pensados e comprados agora, quase quarenta dias depois da chegada do vírus no país? Porque não foram priorizados?
Penso que esta pandemia retrata a visão pragmática, liberal e discriminatória das camadas etárias mais velhas da sociedade. Acreditam que os idosos não são mais produtivos e que isolá-los não implica em nenhum peso socioeconómico. Um grande equívoco sociológico e de descaso psicossocial. O equilíbrio emocional de uma família fundamenta-se também no bem estar dos pais e avós. O bem estar do idoso isolado também deve ser visto como parte importante da saúde pública. Alguma autoridade falou sobre isto?
Quantos milhares de idosos não estão mais isolados afetiva e emocionalmente, do que estavam antes? Alguém tem pensado nisto? È preciso definir que o mais importante é a saúde integral de cada cidadã em na politica de combate a uma pandemia. Cada família tem o direito de saber quem dos seus encontra-se doente, contaminado e em como cada família vai definir as suas estratégias de cuidados com os seus, idosos, ou não.
O sistema de saúde tem que buscar formas de se aproximar de cada família e de cada cidadão e saber as condições de atenção de saúde para cada um. È preciso reestruturar o sistema de saúde, torná-lo realmente sistêmico e orgânico. Torná-lo efetivamente capaz de chegar a cada cidadão e não centralizar tudo no Ministério da Saúde. O SUS e os sistemas de assistência social precisam ser reestruturados, assim como as estratégias de aproximação com a população local. Assim, o idoso saberá que está isolado, mas que alguém sabe que ele existe, alí, naquele lugar e que poderá ser atendido com eficiência.
Sueli L Couto Rosa, 7 de abril de 2020
72 anos,


Biografia:
Socióloga, professora universitária aposentada, escreve poesias, crônicas e contos, aproveitando seu tempo livre.
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