Era fã do Capitão Aza. Até hoje não compreendo como um personagem criado para ser um herói infantil, foi aprovado com um erro gramatical tão grosseiro como nome.
Tanto faz... Asa ou AZA o fato é que o Capitão Aza foi visitar a minha escola. Eu tinha oito anos e estava na 3ª série. Devo ter sido o aluno mais indisciplinado que a escola já teve, mas minhas notas figuravam sempre entre as melhores. Mesmo contra a vontade da minha professora, fui indicado pela direção da escola como um dos alunos que participariam da homenagem ao Capitão Aza.
Lembro que esperava vê-lo chegar de helicóptero, mas o herói desembarcou de um jipe do exército. "Mas ele não era da Aeronáutica?" fiquei me indagando.
Então, a criançada perfilada e imóvel (do modo que dá para se manter imóveis cento e tantos meninos e meninas de idades variando de sete a doze anos), o Capitão Aza passou a tropa em revista, como faria um chefe de Estado, com sua garbosa continência.
No auditório da escola, cada aluno previamente escolhido, subiu para ler sua homenagem.
A minha foi uma poesia que escrevi eu mesmo, devidamente autorizada pela censura da Direção. Afinal, não confiavam tanto assim em mim.
Terminei minha leitura e o Capitão Aza veio e apertou minha mão. QUando estava saindo, escutei o ruído característico de um flato, que, como não tivera sido eu, somente poderia ter saído do heróico orifício.
Prendi o sorriso, porque tive certeza que fui o único a ouvir o indefectível (ou não) traque do herói. Por via das dúvidas, apertei o passo, porque sempre corria o risco da professora achar que fui eu.
Naquele momento, minha infância se foi. Descobri que meu herói também peidava. E sequer chegava aos sonoros flatos que meu pai soltava. Meu pai peidava tão alto que um vizinho sempre gritava de casa:
- Puta que Pariu! Isso não é um cu! É um apito de fábrica...
(J. Miguel 05nov2007)
|