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Frida Kahlo
T. Richter

Saí apressado sem tomar café da manhã. Na metade do caminho ela me liga avisando que um imprevisto ocorrera. Remarcamos para nos encontrar duas horas depois do que fora originalmente combinado em um restaurante próximo, onde somos clientes habituais.
     Tendo chegado duas horas adiantado, devido às circunstâncias, e com o estômago começando a protestar contra o nobre ato de jejuar- realmente não levo muito jeito para asceta- resolvo matar um tempo em uma padaria das redondezas, em uma esquina da avenida Dom Helder Câmara, onde já havia comigo algo antes e sobrevivido sem maiores reclamações.
Passo no caixa e pago um refrigerante e algo para mastigar. No balcão o senhor de chapéu que cuida do atendimento não me vê chegar. Estava de costas para o balcão naquele momento, olhando fixamente para o televisor. Quadros de Frida Kahlo são exibidos um após o outro no telejornal, com os comentários do âncora sobre a inquieta pintora mexicana ao fundo.
O compenetrado atendente tudo via e ouvia, atentamente. Apenas sorri, sem interrompê-lo. Também gosto bastante da arte da Frida e aguardava com ansiedade a inauguração da exposição.
Quando por fim percebeu-me, aproximou-se um tanto sem graça, hesitante. Sorri-lhe para encorajá-lo e mostrar que não estava aborrecido. Dou bom dia e entrego a ficha, junto com o pedido. Enquanto buscava na geladeira próxima a lata de refrigerante comentou:
-”É uma coisa impressionante, né? A pessoa se vai, mas o que ela pintou, o que ela fez, fica para a gente ver!”
Concordei, ainda sorrindo, mas agora da forma simples e espontânea que ele expressou sua admiração. Continuamos a jogar conversa fora. Ele me conta, com ar um tanto chateado de um rapazote que conhecia e que desenhava “bastante bem” mas que infelizmente “não aproveitou o dom”, diferente de um conterrâneo seu, paraibano, que acabou tornando-se um pintor com certo reconhecimento.
Daí o rumo de nossa conversa mudou para sua Paraíba natal. Contou-me um pouco mais de seu amigo pintor, de quem falava com orgulho, e bastante de sua terra. Seu gosto pelas praias era nítido e recomendou-me com veemência que, o dia que eu visitar a Paraíba, não deixe de conhecer a praia do Coqueirinho, “a mais bonita da Paraíba” e que fica “mais ou menos perto de João Pessoa”.
Outros clientes foram chegando e acabamos por ser interrompidos. Não queria que ele fosse repreendido pelo patrão. Tomei o último gole de refrigerante e despedi-me do senhor de chapéu, sugerindo-lhe que não deixasse de ir à exposição, ao que ele respondeu que iria sim, em um dia de folga. Joguei a lata na lixeira e caminhei rua acima, sob o sol. Sol forte, tal qual aquele que ilumina Frida em vários de seus quadros.
                                 Janeiro, 2016

* Crônica originalmente publicada no extinto fórum do Bar do Escritor, na mesma época em que a exposição das obras de Frida Kahlo esteve no Rio de Janeiro.

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