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O que o poeta faz
Maria

O Poeta de pena na mão, sabe manusear as palavras com maestria e perfeição, tal qual o oleiro que com suas mãos toma e transforma o simples barro em uma peça delicada e preciosa que vai encantar os olhos e alegrar o coração de quem a contemplar.

O Poeta sabe caminhar na alma da gente, percorrendo caminhos e trilhas que guardamos escondidos e fechados a cadeados e fechaduras, que nem o tempo ainda tinha conseguido abrir. E toca cada canto escuro do nosso coração, iluminando o tanto de dor, emoção, paixão e amor ali depositados, trazendo-os à flor da pele para serem outra vez vividos e ou sofridos intensa e profundamente.

O Poeta conhece o interior de nossa alma como nem mesmo a gente parece conhecer. Descobre coisas a nosso respeito que nunca imaginávamos ser possível existir em nossa vida, e ainda mais lá, lá no fundo, do fundo do coração.

O Poeta sabe o que almejamos em nosso coração e carrega nosso espírito em suas mãos, dobrando, enrolando, esticando, passando, acarinhando, trazendo para perto de si ou mesmo empurrando para longe, ao sabor de suas vontades e desejos incontáveis e desconhecidos a nós pobres mortais que nos aventuramos por suas linhas e entrelinhas.

O Poeta joga nosso espírito, nossa alma, nosso corpo no mar de suas palavras e ficamos bailando ao sabor das ondas, assim, assim de mansinho. Uma ondinha pra cá. Outra ondinha vem cá, pra lá, pra cá, estonteando-nos com esse balanço, a ponto de perdermos o rumo e o prumo ao fim de sua poesia tão intensamente vivida.

E num repente de loucura arremessa-nos num vendaval de rodamoinhos espiralados, em ondas gigantescas, que arrasam nossas mais ferrenhas convicções, derrubam nossos muros, cercas e alambrados, transformando tudo ao mais mísero pó, que depois ainda sopra com seu hálito morno em nossos olhos, nos cegando traves e fechaduras que ligeiro tentávamos pegar para cadear e prender sentimentos que brotam e explodem em lava incandescente naquele momento.

E ficamos ali boquiabertos, com o espírito em revoada de luzes e cores, asas abertas, mas sem direção, tão deslumbrados e impressionados com os sentimentos que calam dentro de nós, perdidos, vagando, vagando pelo espaço existente entre um verso e outro da poesia construída com cuidado e costurada à mão, ponto a ponto, pelas sábias mãos do Poeta-oleiro.

E o Poeta sabe. Ele bem sabe o que faz com a gente. Ele sabe sim.

E fica extasiado à contemplar a obra que resulta de suas palavras, mas, ainda não satisfeito dá o golpe final, um só golpe, dado com tal maestria que ficamos atordoados, com a impressão de que o que sentimos na verdade, não é o que sentimos, mas o que o Poeta sente. E na dúvida, beiramos o céu e o abismo de fogo e ficamos lá, lá onde o Poeta quer que permaneçamos naquele momento, naquele único instante, cara a cara com ele.

Ele transporta-nos em carruagens de fogo para o tempo dele. Se Poeta medieval, tira-nos deste tempo em que agora vivemos e nos lança a duzentos, quinhentos anos atrás ou quando moderno, joga-nos à realidade da vida ou ao futuro ainda desconhecido para nós seres humanos comuns e não dotados deste senso de descobertas do que ainda virá.

Faz a gente caminhar prá frente e prá traz, prá dentro e prá fora de nós mesmos, de acordo com sua vontade. E sentimos cheiros, perfumes, experimentamos sabores, subimos e descemos montanhas, percorremos trilhas, navegamos em mares nunca antes vistos, descemos rios e geleiras, corremos pelos vales, voamos pelo céu infinito e por campos encantados, ouvimos e dançamos canções, tocamos flores e acariciamos sonhos.

O Poeta invade nossa privacidade e fala de temas profundos onde sabe ele, a gente se encontra lá, em cada linha, cada palavra, cada sentimento descrito esplendidamente para nos fazer pensar, refletir, mudar.

O Poeta nos faz corar, vibrar, faz rir, faz chorar e porque não dormir no embalo doce de uma melodia sem fim. E seu poetar nos transporta para dentro do mundo e história que ele viveu, para o mundo e história em que ele vive naquele momento.

Ah, e quando o Poeta fala de amor. Então nossa segurança some, desaparece e se perde perigosamente entre o ritmo e o cadenciar da fala do Poeta. Se ficamos, rodopiamos qual peão em suas mãos, se fugimos, as palavras nos perseguem o dia inteiro, agarram, prendem e nos fazem, mesmo que ao fim do dia, voltar para dançarmos e rodopiarmos ao som da música apaixonante do Poeta.

O Poeta ao falar de amor, paixão e alegria, faz a alma da gente explodir em felicidade, o corpo tremular descontrolado e o coração bater descompassado num ritmo desembalado parecendo às vezes que vai parar subitamente se o tentarmos controlar. E joga tal emoção em suas canções que lá vem elas, as lágrimas da vida, às vezes, quentes, caladas em suave deslizar pela face conturbada, ou, explodidas em soluços de sacudir o corpo, tal a intensidade dos sentimentos desencadeados pela tristeza, dor ou lamento que encontramos no interior da poesia e da canção do Poeta.

Suas palavras nos tocam, suas mãos caminham no barro de nosso espírito, moldando-o a partir do ensejo do seu próprio espírito, fundindo-os, como um só, naquele instante, único instante onde a poesia ganha corpo, ganha vida num já azulado rascunho de papel que somos nós.

E naquele único instante de encanto e magia, somos poetas também, pois a poesia ganha vida, ganha alma em nós e se levanta, e caminha, e vive intensamente cada um de nossos dias, marcando-nos para sempre como propriedade dela, e ela, propriedade da alma da gente.

Pois já decidi, um dia aprenderei a ser Poeta também.

E deixa estar. Aprenderei a fazer misérias das palavras para calar, marcar profundamente e fazer dançar e rodopiar ao sabor delas, a vida dos Poetas que fazem isso com a gente sem dó nem piedade.



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