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Além
Rodrigo Barcellos

Sua única certeza é a incerteza de viver uma vida não vivida. Emoções nulas de momentos transitórios. O não estar estando em nada. A rotina diária, igual e sempre, a mesma coisa e tudo diferente na diferença de ser o que não é mais. Apenas um corpo cujo nome é uma combinação de letras, uma pessoa impessoal, o verbo sem ação. Impossibilidades possíveis, inúmeras formas problemáticas de problemas cuja solução é insolúvel. A exatidão inexata da matéria imaterial. Um organismo desorganizado nele próprio. Busca no vazio algo para preencher sua expectativa, uma silhueta caricata, um alguém sem ninguém, o “eu” poético sem poeta nem palavra, distorcida e muda no silêncio do grito. Uma voz sem som, o timbre imperceptível, a visão imaginada do olho que não vê.
Antes, a criança esquecida de esquecer, tendo que lembrar o que nunca imaginou. Brincar de não brincar, brincando de trabalho igual gente crescida, idade não contada, tempo sem cronologia. Esperança de espera, alcançar o longe que parece tão perto, um horizonte vertical, sair correndo mesmo que precise caminhar muito para isso. O futuro, passado pelo presente. Ausente de pai e mãe, parente dele mesmo, família de um só.
Agora, um adolescente adulto, ou o contrário, já nem sabe mais, ou menos, melhor é não saber, ou pior, tanto faz ou fez, fazer o que, nada o que fazer. Princípios infames de uma mente sem memória, mentiras verdadeiras que ele mesmo não acredita. Uma crença descrente, religião sem fé, a cura não curada de doença, dor de não doer. Um abismo pro alto do céu, sem nuvens para amortecer a subida. A respiração sem ar, água que não molha, fogo que não queima.
Depois, um tudo de nada. A previsão não prevista. O momento perdido na vastidão do tempo, uma lembrança sem memória, cujo pensamento se assemelha ao que ele próprio vislumbra de si mesmo. Vento que não venta. O espelho que não reflete a imagem. Uma terra não adubada onde nada gera. O amor que não ama, o beijo que não beija. Metamorfose disformada, um retrato sem pintura, foto não fotografada. Uma pedra mole furada por água dura. Dureza de uma vida sem caminho, estrada para lugar nenhum.
Além, sim, só lhe resta o além.


Biografia:
Já trabalho com livros faz bastante tempo, e participei de 9 coletâneas de contos, além de mediador de eventos.
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