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Zenão - Filosofia e literatura
Mônica Maria Rodrigues Silva

Resumo:
As idéias de Parmênides e Zenão não foram descartadas em literatura moderna, principalmente, quando se trata de paradoxos, nonsense, fantástico, maravilhoso e absurdo.

ZENÃO – Filosofia e Literatura.


Se pensarmos nas aporias de Zenão de Eléia e as compararmos à literatura, poderíamos passar pela estética barroca e chegarmos ao Surrealismo ou a autores como Monteiro Lobato, Murilo Mendes, Kafka e Borges.
Nossa intenção não é fazer uma análise aprofundada destes movimentos e destes autores. Apenas, demonstrar que as idéias de Parmênides e Zenão não foram descartadas em literatura moderna, principalmente, quando se trata de paradoxos, nonsense, fantástico, maravilhoso e absurdo.
Zenão de Eléia nasceu por volta de 490 a.C e foi discípulo de Parmênides, filósofo que discutiu o Ser e o Não Ser, a partir do poema “Da Natureza” e considerado por Aristóteles, o fundador da dialética.
Os quatro mais conhecidos argumentos de Zenão, dentre os 40, que reduzia as idéias contrárias ao absurdo, são o da dicotomia, o de Aquiles, o da flecha e o do estádio.
No de Aquiles, demonstra matematicamente, que o movimento não existe, é apenas uma aparência. Aquiles, o corredor mais rápido da mitologia, dá à tartaruga, símbolo da lentidão, uma vantagem de um metro.
Todos, desde a época de Zenão, repetem que Aquiles venceria a tartaruga. Porém, Zenão afirma o contrário, pois Aquiles teria que, antes de tudo, alcançar o ponto de partida da tartaruga que saiu na frente. E assim, pela lógica e paradoxalmente, o mais lento venceria o mais rápido.
Outra aporia paradoxal muito conhecida de Zenão é a da flecha, que não pode chegar a sua meta, porque antes tem de passar por um ponto intermediário, por outro intermediário e assim sucessivamente, passando por infinitos pontos em que a flecha está imóvel no ar, não chegando ao seu alvo.
Enfim, para Zenão, o que vemos na nossa parca realidade, e que percebemos pelas sensações, não passa de mera ilusão. Assim, surge a dialética de que “ocupar um espaço” é o mesmo que “estar em repouso”. A antítese “movimento e estar parado” nos encaminha ao paradoxo “movimento é igual a estar parado”, chegando à conclusão de que, à luz da razão, não existe a multiplicidade e o devir.
Com este pensamento Zenão acaba por discutir o Ser real (ontológico), porque para ele é absurda, portanto ilógica, a idéia de que o Ser pode sofrer transformação e ser múltiplo já que ele é finito. Entretanto, para muitos, absurda é a opinião de que o mundo seja estático quando olhamos ao nosso redor e percebemos tanta mutação, o nascer e o morrer, o dia e a noite etc.
Desde forma, podem ser facilmente identificados na estética barroca e no maneirismo os contrários de Zenão, em que os opostos convivem. A dialética do absurdo pode ser notada, também, no Surrealismo, em Kafka, em Borges, em Lewis Carroll, e muitos outros que apresenta por procedimento artístico o nonsense, o fantástico, o maravilhoso, o absurdo, os contrários.
Segundo Borges, Kafka é atemporal, pois se pensarmos em Dante, Cervantes, Shakespeare temos de pensar também em obras harmônicas e que nos remetem, respectivamente, a Virgílio, à política espanhola e ao teatro renascentista. Quando falamos das obras de Kafka não percebemos a guerra, ou entre guerras ou qualquer outra época histórica próxima a este autor ou pela qual ele tenha passado.
Borges afirma que Kafka é clássico na forma, mas no conteúdo renova o paradoxo de Zenão de Eléia, porque um dos seus temas é a infinita postergação. Esta postergação é tomada de maneira diferente e nova, pois o leva a uma expressão de vida, já que os acontecimentos e as agonias da vida são transformados em fábulas, tornando-se um escritor intemporal, portanto eterno.
Borges, como bom leitor, apreciou Kafka e o imitou quando associa a arte de narrar à magia. De início, Borges, em seus ensaios retoma os dilemas metafísicos. Mais tarde, percebemos em seus contos a presença das aporias de Zenão e a corrida de Aquiles e a tartaruga. Em Zenão, relativamente Aquiles e a tartaruga corriam iguais. Em Borges, todos os homens são igualmente relevantes.
Para ele, a realidade depende da palavra e se utilizará do paradoxo, da antítese e de símbolos da duplicidade (por exemplo, espelhos, moedas, labirintos) como recurso estilístico para demonstrar que o duplo pode levar ao “nada’ e que este pode salvar.
Não podemos esquecer que este “nada” não é negativo, nem falso. É paradoxal, e talvez fantástico e/ou nonsense.
Na escolástica, o absurdo era reconhecido como “não racional”. A noção da filosofia irracional ou a recusa de encontrar qualquer explicação racional para a existência, serve de fundamento para a arte do nonsense e do fantástico.
Não podemos negar que Kafka, bem como Borges, possuem grande tendência ao nonsense, quando lembramos de obras como “Metamorfose”, “O processo”, “O Aleph”, “Ficções” etc., assim como estará presente em telas de Magritte ou de Salvador Dali, como, por exemplo, “A Flecha de Zenão” ou “Cisnes refletindo elefantes”, ambos pintores do movimento vanguardista europeu surrealista, no qual a realidade e o absurdo se misturam.
Como dissemos, nosso intento não era analisar alguma obra ou movimento que se utilizasse dos preceitos de Zenão, como não o fizemos. Todavia, perceber que Zenão não só foi importante na história da filosofia como também na literatura mundial, pois ao discutir seus argumentos contra a multiplicidade e transformação do Ser, igualmente traçou direções sobre, o que mais tarde, chamaremos literatura (e/ou arte) do absurdo, do fantástico, do nonsense etc, fazendo com que tivéssemos contato com artistas impressionantes, tais como os que já foram citados neste ensaio.













BIBLIOGRAFIA


BORGES, Jorge Luis. Escrita atemporal. Disponível em <www.paubrasil.com.br/
Livraria/scripts/pagina.web?233983121043907497112+r_Kafka.html>. Acesso em 07.abr.2004.
CECHELERO, Vicente. Borges. Disponível em <www.vitoriaweb.com.br/borges.
Html>. Acesso em 07 abr. 2004.
ESCHER, M.C. A arte do Absurdo – uma breve biografia. Disponível em <http://
Madmix.fateback.com/minim\log/absurdo.html>. Acesso em 07.abr.2004.
SANTOS, Melisso dos. Os Eleatas. Disponível em, <warj.méd.Br/fil/fil05e.asp> Acesso em 07 abr.2004.





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