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Diálogo
Werner Vilaça B. Borges

A - Será algum mistério gostar de alguém? Amar outrem, por que isto acontece? Claro que sei algumas coisas como a igualdade entre duas pessoas, atração física, por concordarem em muitas coisas, por não ser você mesmo e por ser diferente de você. Mas tudo isto por quê?
B – creio que esta resposta nunca será respondida, por isto é um mistério. Não entendo o que esta palavra significa etimologicamente e nem através da filologia, e nem mesmo me dei o trabalho de ir ao Aurélio. Mas digo mistério no sentido de não saber sua real e verdadeira origem.
A – Às vezes acredito ser isto coisa divina, algo assim como o destino, ou se preferir Destino, pois seria algo que não que precede deste mundo. Mas há alguns problemas ao pensar assim.
B – É verdade há vários problemas pensar desta maneira em que Deus intervém em nós. Para onde vai neste caso o livre-arbítrio? E a escolha? A deliberação? Afinal sempre o considerei um existencialista. Será que me enganei?
A – Não, não ... Mas pensando bem ... Agora acho que não sei. Creio ...
B – Acha ou crê? Se vier falar de achismo hoje não vou ouvi-lo. Não mesmo, tô cansado destas coisas. Sempre foi muito bom conversar contigo que sempre depois de passar um tempo sem nos vermos vem com leituras e idéias novas ou mesmo velhas, mas interessantes. E agora você vem titubeando “Eu acho, não sei,”
A – Ta bom, tudo bem. Foi apenas um momento. E deixa de ser chato. Como consegue agüentar-te? Não te enjoas de você mesmo?
B – Muitas vezes estou a vomitar-me.
A – Deixe de brincadeira. Voltemos ao que tratávamos. Era sobre o meu existencialismo. Quanto a isto, sempre quis ter esta ou aquela liberdade que define o homem como um ser humano, definindo-o até mais que a razão aristotélica. Mas é que não sendo ateu, creio que Deus coloca coisas, pensamentos e pessoas no nosso caminho. Não achas? E você já se decidiu se acredita em Deus? Você está me escutando?
B – Sim.
A - Sim o quê? Acredita em Deus ou está me escutando?
B – Sim para as duas perguntas. É que quando você falou em caminho lembrei do poema do Drummond.
A – Tinha uma pedra no meio do caminho/ No meio do caminho tinha uma pedra.    
B - Tinha uma pedra no meio do caminho/ No meio do caminho tinha uma pedra.    
B - É ainda temos muitas coisas em comum. Será que Deus colocou a pedra no caminho? E por que motivo colocaria?
A – Talvez colocou para Drummond escrever este poema.
B – É verdade. Boa resposta. Então qual seria a utilidade deste poema?
A – A mesma de todas as poesias e de toda a arte.
B – Então Deus colocou a pedra no caminho para Drummond escrever um poema que não serve para nada?
A – Quem disse que não serve para nada?
B – Olha para aquelas crianças reparando os carros na rua. Que utilidade tem este poema para elas? Seus país se é que eles têm leram este poema? E se leram entenderam? E se entenderam serviu para alguma coisa?
A – Mas eu li e isto já é algo importante e talvez útil.
B – Precisas ler o “O existencialismo é um humanismo” de novo. Ah! Esqueci, você nem sabe ao menos se é existencialista. Mas pelo menos leia alguma coisa que te afaste deste EU.
A – Ao repetir o EU também estás sendo egoísta. Deveria dizer TU ou melhor VOCÊ. Pelo menos não correria o risco de ser piegas como eu ao pronunciar o /s/ do final das palavras.
B – Tudo bem. Agora és tu que estás ficando chato e eu piegas.
A – Nós dois somos chatos por isto estamos conversando.
B – Mas não estávamos conversando sobre nossa chatice. Estávamos conversando sobre a utilidade da poesia.
A – Não. Era sobre a o motivo de Deus ter colocado a pedra no meio do caminho.
B – Não, não era esta a pergunta. Se fosse esta saberia a resposta. Deus colocou a pedra no meio do caminho por que não colocou ao lado direito nem ao lado esquerdo colocou no meio e pronto.
A – Então concordas que Deus coloca as coisas, pensamentos e pessoas no nosso caminho?
B – Não. Nada disso! Disse que no caminho de Drummond Deus colocou uma pedra bem no meio. Não no nosso. Senão o autor deste poema seríamos nós.
A – E quem de nós teria colocado tinha e não havia e por que aquela palavra e não esta no poema?
B – Sei lá. Eu diria que isto foi escolha sua. A minha parte teria sido todo o resto do poema.
A – Simplesmente não responderia. Diria que este seria é o sorriso da Gioconda deste poema.
B – Boa resposta. Você está cada vez melhor em dar respostas. E melhor que isso está com humour que nem parece aquele cara triste e bobo que perguntava por que amamos outrem. Parece até que a pergunta colocou uma máscara no seu rosto.
A – Não é uma questão boba. É uma questão de alteridade.
B – Agora dor-de-cotovelo virou questão de alteridade? Essa é boa. A partir de hoje todos os adolescentes e amantes piegas do mundo e quem sabe até estes que se dizem “emos” discutem e refletem sobre a questão da alteridade. Não lhe disse que estava muito melhor em dar respostas.
A – Ah! Então percebe um pensador, um filósofo, poeta ou sei lá o que pela sua “carinha”? Ao invés de ler os seus livros você vê suas fotos? Já sei, você vai no Google coloca em imagens, digita o nome, por exemplo Nieztsche, Sartre, Heigegger, Levinás. Clica em procurar e começa a analisar seus rostos e, por conseguinte suas filosofias?
B - Esta é uma boa maneira de pesquisa. Gostei. A partir de hoje este vai ser o primeiro passo de minhas pesquisas. Depois leio a orelinha do livro como você. Mas e aí ela era bonita?
A – Era não, é ...

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