queria poder apertar-te ao meu peito
para sentires o calor que me esquenta o corpo
à noite quando declino meu corpo
em minha lúgubre cama e deito
de tristeza e solidão é que sou feito
minha fragilidade intranqüila expressa-se na cama
quando penso sem parar em ti, e, na própria cama
durmo e sonho com teu meigo jeito
meus sonhos são curtos e meu mundo estreito
acordo e penso que és a mais pura santa
vejo só em ti a pureza de uma santa
e peço a Deus perdão por meu infame desrespeito
nas noites melancólicas torno-me vulgar sujeito
perco-me na impureza de meu corpo num teu pensamento
fujo da minha moral, do meu pudor e do pensamento
que guardo de mim: sou, então, constantemente desfeito
como um limitado, não compreendo o efeito
de minha mudança como da água ao vinho
para esquecer o que sou deleito-me no vinho
só no dia seguinte é que outra vez me aceito
escondo o ser sensível que há em mim, sempre me enfeito
pois ser fraco, frágil, mostrar como sou
expressar-me nessa vida não posso, e o que sou
fica na ingenuidade de quem me tem por perfeito
viver entre a vagina e a cruz é o que rejeito
de um dilema moral é que sou constituído
e assim vivo, tão mal constituído
sobrevivendo a esse sofrimento prometêico
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