Ele foi fruto da fruta podre,
A esperança do desassossego,
A solidão em todo seu exagero,
Ressucitou do seu próprio enterro.
Mãos grandes, secas e duras,
Visão curta, límpida e clara,
Pensamento confuso, rude, forte,
Coração abafado, triste, sem norte.
Homem turrão,
Homem durão,
Homem machão,
Homem cão.
Foi criado na pobreza de espírito,
Foi crescendo na Amazônia da perdição,
Foi virando homem no antro da maldade,
Envelheceu na pervercidade.
Perdeu a inocência antes de aprender a ter esperança,
Perdeu a alegria e nunca soube o que foi felicidade,
Perdeu a mulher de sua vida por orgulho e safadeza.
Isso que era homem covarde.
Passou a vida passando de lugar em lugar,
De coração em coração,
De delegacia em delegacia,
Felicidade não era para ele não.
Tentaram fixá-lo na ferrenha felicidade que fingiam viver.
Soltou-se.
Tentaram enquadrá-lo no quadrado de suas vidas como se fosse um quadrúpede.
Não coube.
Tentaram recolocá-lo na vida recortando as coisas boas e ruins que tinha.
Descolou-se.
Amava quem não lhe amou e amou quem não lhe amava,
Fez filhos com quem sentia horror e magoou a quem gostava,
Deixou de fazer o que gostava e fez muita gente pensar que não gostava do que fazia.
Vida fria.
A sua raiva remoía o rancor que tinha da realidade,
Sentia o sangue saindo de sua saliva,
Voltava a viver a vida com gosto de vinganca,
Começou a ter esperança!
Foi sem sair do lugar,
Saiu do lugar errado,
Achou o lugar certo,
Ficou perdido, teve medo, quis voltar,
Voltou para onde não gostava.
Sua vida era um fiasco!
Se prostituiu pela verdade,
Se vendeu por dinheiro,
Se acuou pela ignorância,
Se deixou abater com toda sua arrogância,,
Rogou praga a quem não divia.
Que covardia!
Morreu sem ter vivido,
Vivieu como um morto,
Passou muito sufoco,
Sufocou muita gente,
Perdeu a quem achava mais precioso,
Secou na amargura da falta de alegria,
Que vida vadia vivia!
Foi sem ser lembrado.
Passou ser visto,
Falou sem ser ouvido.
Se emocionou sem ter sentido.
Que infeliz foi Calixto!
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