Vem com um brilho ofuscante e encantador, ao meu encontro, uma luz doutro mundo, doutra dimensão; uma luz furiosa... Lentamente caminho, tento descobrir sua origem e forma. Fugir não consigo, nem medo tenho, sequer penso em correr: quero é saber o que é.
─ Vem luz estranha, vem. Quero te conhecer.
Mas ela muda de curso...
─ Por quê? Por que não vem até mim?
Sigo em sua direção, correndo. Consigo aproximar-me, já cansado. Mas ela aumenta a velocidade. É branca e não muito grande ─ e quer evadir-se. Corro. Alcanço-a; todavia, temo pelo que poderá acontecer-me. Novamente, o medo infernal por minha vida...
─ Preciso me recuperar e me livrar disso. Vou criar coragem, ainda sou forte...
Penetro finalmente na luz. Entretanto, algo me incomoda, uma coisa estranha acontece a meu corpo: já não consigo me ver, não sinto o chão, e a luz se torna opaca por dentro. Não en-xergo enfim mais nada, apenas neblina, e nada-nada mais.
─ o que está acontecendo? Já não sinto nem a brisa batendo, deslizando em meu corpo...
Há um grande espaço, por fim já posso perceber. Pessoas passando e sussurrando pala-vras semi-inaudíveis, estudando-se umas às outras e apontando para mim. Parece o caos; gente e mais gente.
Paulatinamente, a neblina se dispersa. Sinto-me leve. Alguém, então, sussurra ao ouvido:
─ Achas bonito aqui? Por que não ficas?
Por que a pergunta? Interrogo-me, tento responder. Que frustração! A voz não sai, e não consigo comunicar-me. Nunca responderei... A mulher, mesmo sem resposta, vira-se e vai em-bora indiferente.
Permaneço pensativo.
─ Mas... por que ela fez tal pergunta? Por quê? Preciso voltar para casa; contudo, como sair daqui?
Súbito, um susto: um mundão de gente passando. E flutuam, e andam; zanzam de um lado para o outro... até através de mim passam. Num sobressalto, tudo fica límpido; porém tudo subindo e tudo girando. Do lado de fora da luz já posso entrever árvores balançando suas fron-des. Mas eu não sinto o vento assim mesmo. E uma sensação de vazio toma conta de mim. Vêm o frio e o calor simultaneamente. Gente de feições grotescas me olhando de esguelha. Outras, de aspecto brando, fitam-me indiferentes. Dentro de mim a confusão é imensa. A loucura quase por tomar conta de meu ser.
─ Droga! O que faço aqui nesta maldita luz?
Começo a correr, fugir, sair deste estranho espaço, correr sem parar... até perder o fôlego, até quando o espírito ainda puder guiar-me.
Mas vem a completa escuridão para atrapalhar.
─ O que é que há, que está acontecendo? ─Um terrível grito de susto e de dor quebra o silêncio da madrugada. E é meu o grito.
Dou consciência de mim num estado e situação inusitadamente incompreensíveis: caído sob minha rede, com o braço ( não sei se o esquerdo ou o direito) sangrando muito, quebrado ─ fratura exposta. A dor e o medo aterrador estando a ponto de me endoidecer...
Acordo com a face em brasa. Minha mãe a custo me fez despertar. Acordado de verda-de... sim, acordado estou... ou não? ...
No braço a dor era forte assim mesmo...
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Biografia: Desde que nasceu, vive em seu torrão natal, a ilha de Mosqueiro, lugar banhado por 23 praias de água doce com ondas, uma singularidade no mundo inteiro. Tem graduação em Letras-Língua Portuguesa (UFPA), Especialização em Língua Portuguesa e Análise Literária (UNAMA)e Mestrado em Letras-Estudos Literários (UFPA). Gosta de escrever Contos, crônicas de temática variada, principalmente ligadas à literatura. É artista plástico amador. Já publicou de modo artesanal os livros de poesia "Setembro em brasa" e Dimensons", além de ter participado da coletânea de poesia "Mosqueiro, pura poesia", organizada por Lairson Costa. |