Na calçada imunda, fétida e dura
Chora o menino, drogado, com frio
O corpo apodrecido e a alma pura
Pendurada apenas por um frágil fio
Buzinas, fumaça e gente apressada
Todos imunes à desgraça alheia
Muitos podem, ninguém faz nada
Menino-inseto debatendo-se na teia
Meio-dia... A fábrica apita
E apesar da dor lancinante
O guri não soluça nem grita
O fio se parte... Último instante...
Não é incômodo nem estorvo
Os anjos da morte cantam em coro
E arde doída no bico do corvo
Uma bituca molhada de Marlboro
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