Foi em 1993 que eu conheci a expressão “desencantamento do mundo”. Em vários sentidos. Na faculdade eu estava estudando as teorias de Max Weber, para ser mais preciso estava interpretando “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, obra na qual Weber demonstra que o ateísmo contemporâneo pode ser visto como fruto da “evolução” do Cristianismo.
Foi nessa época, devido a uma série de razões, que eu comecei o meu processo de desencantamento. E esse processo continua até hoje, derrubando todos os tijolos daquilo que um dia foi inocência. Entretanto, coisas novas surgiram. Bem, na verdade não foram coisas novas que surgiram, mas sim uma reinterpretação da realidade.
A busca por conhecimento quase sempre resulta nessas reinterpretações. Toda as culturas atribuem significados específicos para diferentes elementos que fazem parte de um contexto mais amplo. Portanto, a interpretação e a reinterpretação são processos contínuos dos quais os seres humanos não conseguem se livrar por mais que alguém tente.
Contudo, a maneira como cada humano interpreta a realidade é condicionada por dezenas de fatores (psicológicos, sociais, biológicos, econômicos, históricos, políticos). Quer um exemplo? Tudo bem.
Nos finais da década de 60, o cinema americano vivia um período de indefinição estética, que aliada às dificuldades do sistema industrial de produção, fazia antever a necessidade de uma renovação como forma de sustentabilidade e manutenção do seu predomínio na distribuição mundial.
A resposta a esse problema aos poucos foi surgindo e, nos anos 70, a produção cinematográfica ocidental passou por mudanças que mudariam completamente a arte de fazer filmes. Nomes como Woody Allen, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, George Lucas e Steven Spielberg anunciaram a renovação pela qual o cinema norte-americano passaria naquela década.
E é nesse contexto que surge “Guerra nas Estrelas”, de George Lucas. “Star Wars” é uma reinterpretação de arquétipos clássicos dos contos de fada se outros elementos mitológicos. E, assim como num conto de fadas ou numa fábula, possui uma mensagem moralizante.
Considerando que a simbologia de Star Wars seja muito rica e ampla, não seria possível fazer aqui uma análise das possíveis influência de George Lucas na criação de sua obra. Eu serei bastante específico, limitando-me ao 13º episódio da série derivada do filme spin off da hexalogia principal, que é Star Wars: The Clone wars.
Nesse episódio, que é uma continuação do anterior, os Jedis (good guys) chegam a um planeta “primitivo” onde vivem criaturas estranhas que foi colonizado por um grupo de alienígenas que leva uma vida muito simples. Esses alienígenas não tem a menor intenção de participar do conflito entre a República e a Confederação dos Sistemas Independentes. Isso muda com a chegada dos droids (bad guys) da Confederação a situação muda. E para pior. Hence, os alienígenas são obrigados a lutar ao lado dos Jedis, acabando com sua política tribal de não-alinhamento.
Mas o que isso quer dizer?
Bem, nos anos 70 o Império podia ser interpretado como a União Soviética (isso era bastante óbvio); agora, a República representa os Estados Unidos. Aquele que não é inimigo deve aceitar a “proteção” da República, pois não haveria outra alternativa. Uma política de não-alinhamento não tem espaço de essa visão simplista.
A manutenção, portanto, da ordem universal deve ser preservada para garantir que a paz seja mantida. Apenas a República (E.U.A.?) é capaz de manter a paz.
Uma paz que não é paz, mas um desejo de controlar e dominar outros povos. Uma falsa paz por meio de um estado de medo e da guerra. "Star Wars", portanto, mais que uma obra de ficção é um instrumento de propagação ideológica que tenta justificar a hegemonia da superpotência.
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