FANATISMO
Um velho pescador
Pelo tempo surrado,
Ver se aproximar
Um homem bem trajado
Com um livro na mão
Aparentemente educado
Chega e pedi licença,
Ao pobre pescador
Que encosta a canoa
Pensando ser um doutor,
Diga! Pode falar,
Estou a seu dispor!
O homem diz: _bom dia!
O pescador fala: _Bom!
_Vou falar minha mensagem
E mudar seu coração,
Hoje vais mudar de vida!
se tornar um bom cristão.
_Moço não estou entendendo
O que o senhor quer falar!
Eu sou só ouvido,
Você pode começar
Mas te peço, fale logo,
Que eu tenho que pescar!
_ É muito importante
O que vou lhe dizer,
Pois, vai salvar a tua alma
Que desta forma iria morrer!
Portanto fique atento,
Para no inferno não perecer.
Geraldo olhou de lado,
Como quem queria sair,
Mas, não tinha jeito,
Teria que ouvir
“Soltou os cachorros” no homem,
Para ele não se sentir!
_ Mais que besteira!
Diz-me o senhor,
Diz que vou para o inferno!
Por certo, lá já andou,
De mãos dadas com o diabo
Que foi quem o levou!
O homem ficou chocado
Com aquela reação,
Sentiu-se incomodado
E vai logo a atacar,
Repreendendo Geraldo
Que estava a escutar.
_ Não seja ignorante!
Receba a mensagem,
Da minha querida igreja
Seja mais um na contagem
Que vai romper o céu
Na grandiosa viagem!
_ Agora se danou!
Perdi a paciência
Como é que você diz
Com tanta conveniência
Que tu sobe e eu fico,
Sem perdão e sem clemência?
_ Para subir também,
Tem que se converter!
Aceitar nossa doutrina e
Não pode esmorecer
Permanecendo até o fim
Para a coroa receber!
_ Seu moço vai-te se embora!
Que eu vou ao rio entrar,
Vai enganar outro!
Pregar noutro lugar,
Se não tens o que fazer,
Eu tenho que trabalhar!
O homem estava irado!
O olho só faltava saltar,
Sua pela descorada,
O coração não batia
Já estava a apanhar.
Então puxou uma faca!
Começou a ameaçar:
Ou aceita, ou morre!
Ajoelha para orar.
Geraldo se enraivou
E começaram a brigar.
Enrolaram-se na lama,
Foi uma confusão
Do bate boca as pancadas!
E o livro jogado no chão
Marcou aquela cena!
Que decepção.
O pregador deu uma gravata,
E a Geraldo dominou!
Já estava o afogando,
E gritava com furor:
Quem é esse incircunciso,
Para enfrentar o filho do Senhor!
Geraldo para se ver livre,
Resolveu logo aceitar,
Depois que o pregador
Começou a lhe enforcar!
Aceitou? Paz do senhor!
Pararam de brigar.
O pescador aliviado,
Pareciam dois irmãos,
Um abraçava o outro
Nada de confusão,
Logo se despediram
Com muita emoção.
Ao longe, acenava,
O pregador a ir embora,
Mas, ai é que começa a história,
Pois, ao refletir,
Ele muda de trajetória.
A cabeça daquele homem
Quem poderia entender?
Era inadmissível! De revoltar!
O que estava prestes a fazer!
Veja no que pensava
Antes de ao rio descer:
Se ele se desviar?
Que poderei fazer?
Deve morrer cristão,
Para o céu conhecer!
Com a sorte não se brinca,
Terá que desaparecer!
Vem aqui irmão!
Esqueci de falar para você,
O pescador se aproxima
Sem saber que vai morrer!
Assassinado pelo crente!
Para ele não se arrepender.
_ Agora se acabou!
Cumpri o meu dever,
Geraldo virou crente
E não saiu até morrer!
Será recompensado
Por ele me obedecer.
À noite naquela cidade,
Na praça o pregador,
Contava o ocorrido
Quando polícia o levou!
Acusado de homicídio
Por matar um pescador.
Ninguém imaginava,
A polícia foi quem contou,
Aquele era um louco
Que do hospício se soltou,
E a todos enganava
Se dizendo pregador.
FIM
A cultura é o reflexo da alma de um povo!
Fredson Adjar Lima Pereira
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