De onde vim é terra basta,
chão batido de poeira
e pedras de arrastar.
De onde eu vim,
não é o fim do mundo,
mas também não
é
o início dele.
De onde eu vim
tem uma pracinha colorida,
um presépio permanente,
ladainhas e procissões de hora
em hora.
Tem pipoqueiro fausto de
sal e algodão doce
que implicam à guloseima das
crianças.
Tem uma pracinha bem aconchegante;
bancos envernizados,
plantio avulso de árvores e flores
dispersas ao longos de vários
canteiros.
Bem cuidados.Se diga.
De onde eu vim, há
muito tempo,
tempo demais,
não resistiu a aragem dos homens
e sucumbiu arredia ao novo era.
Tinha até orvalho carinhoso e, no verão,
um sol de vermelhidão.
Tinha
meninos de rua,
homens de negócios,
charretes flácidas
e mulheres de toda
hora.
É, mais este tempo acabou.
Quando fui lá não existia mais nada
disso. A muito custo encontrei seus restos.
Todos abandonaram a vila de príncipes e fadas,
longos castelos e sizudos reis, e se foram.
Não perguntei prá onde, pois
vi o cemitério abandonado cheio de
cruzes avulsas e todos parecendo
pedir nova vida.
Não, não tem mais não.
Minha terra acabou e com ela
seus probos cidadãos.
Os velhos morreram de solidão
e os mais novos foram roçar a
guerra de 1918.
E com meu tempo acabado
sem esperança de volta,
chorei um pouco perto
dos canteiros vazios e
sussurei: este tempo
já morreu e morri também
por saber que onde existia parte
de minha vida foi coida pelo tempo
e pela voracidade dos homens.
E como bom mendigo, arrastei
minha trouxa e fui procurar
outro lugar prá dormir.
Porque voltar mais, tempo
nesgo e inchado de lembrancas,
não volta mais não, meu senhor!
O tempo mata as coisas e sufoca
os homens.
De onde vi
m a terra era fértil
e os carrocéis não paravam de rodar.
Minha terra morreu ou
basta bem lembrar, fui
eu quem fui?
Mas dá no mesmo:
os dois estão mortos!
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