Um dia, eu tive tudo o que queria:
tinha dois brinquedos,
uma harpa,
uma caixa de gude -
o que mais preferia!
Tinha uma ama que só
de namorar o padeiro,
comia pão o dia inteiro,
tinha um instrutor da vida
que só me ensinava
o que ela não tinha.
Tinha também um bando
de mocinhos de chumbo,
um anel de avô
e um cordão da tia-avó.
Tinha tudo o que queria.
E eu pensei, então, com o
passar dos anos,
que bastava ter tudo que
você tinha o mundo.
Fracasso errado,
igual quando a bola bate na trave!
No mundo a gente tem o que
não quer
e não tem tudo aquilo
que quer.
É uma bola furada
de dois lados:
no furada fico eu,
do outro toda gente
do mundo.
Um mundo persa sem tendas!
E, assim, temeroso,
feito alma perdida,
e honrando o oneroso,
que rondam nossas vidas,
aprendi que o mais importante
era ter um pouquinho de cada
coisa e não
ter nada desse pouquinho!
E assim, já humilde,
e sem meus brinquedos de
papelaria,
saio agora pelas avenidas
entre a 345 e 400,
onde lá vivem os que tem -
e vendo minhas cocadas
e algodão-doce;
Pois
de tudo perdi
até a a sensação de
embriaguês de
que morto estou,
continua neste
indecoroso homem velho!
Ou já morri e não sei?
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