Muito se tem dito a respeito do fracasso da alfabetização no Brasil, juntamente com o conceito de ciclo e com as concepções de educação atualmente adotadas. Considerando que uma boa parcela dos escritores de hoje foram alfabetizados com métodos tradicionais de ensino e são reconhecidos pelo seu trabalho, resta saber se eles o são apesar da escola ou por causa dela. Haverá como significar escola e educação sem levar em conta a história política que as compromete e as diferenças culturais, sociais, econômicas, dentre outras que envolvem os alunos? Haveria portanto um único método, ou uma única teoria que atenderia os alunos respeitando suas diferenças integralmente? Neurocientistas afirmam que “Piaget errou ao conjecturar que o cérebro nasce limpo e o conhecimento é construído a partir da interação com o meio”, também contestam o construtivismo em sua tese de que a criança tem etapas para desenvolver suas habilidades, pois elas não condizem com o que se descobriu sobre o cérebro das crianças. Neurolinguistas recriminam o método ideovisual, proposto pelo construtivismo, indicando o método fônico, que consideram eficaz para garantir a compreensão do texto, decodificar e codificar o alfabeto sem memorização, evitando dificuldades como paralexia e paragrafia. Há ainda professores garantindo que o fracasso da alfabetização está na confusão feita em torno dos conceitos de letramento, alfabetização, construtivismo e a progressão continuada do ciclo. O que proporcionou a não-reprovação, a idéia de que não seria preciso haver métodos de alfabetização tornando-os abomináveis. O que faz então, os professores que alfabetizam, dentre tantas controversas idéias sobre como aprender e como ensinar? Há professores alfabetizadores que informam que alguns alunos que apresentavam dificuldades de aprendizagem ou mesmo defasagem no ensino, aprenderam por métodos que são considerados ultrapassados, outros alavancaram o seu aprendizado numa base interacionista, há ainda os que constroem o seu conhecimento de forma independente. Tudo isso mostra que o uso de diferentes metodologias baseadas em distintas teorias promovem os alunos, que são únicos, porém não aprendem de maneira única. O respeito ao ciclo de desenvolvimento do aluno, a fim de garantir a alfabetização e o letramento, vem atrelado à adoção de diferentes metodologias e seletas teorias, contextualizando-as à realidade dos discentes. Dentre tantos estudos feitos promove-se aqui o pensamento de que é necessário saber sobre os métodos de alfabetização e a história política, social e cultural que os envolve. Impossível, a meu ver, fazer educação de qualidade alienando partes. Não há como absolver um método, uma teoria, assim como não há como promovê-los isoladamente. A única coisa que pode ser unificada, independente da heterogeneidade entre os alunos é a conduta do professor, que deve tentar ser gestor de sua sala de aula, pesquisador, inconformado sempre com a realidade inoperante e acima de tudo deve respeitar seus alunos, suas histórias e os conhecimentos que trazem. O caminho que o professor têm que trilhar com seus alunos é árduo, tão exaustivo quanto gratificante, embora nem sempre alcancem os resultados desejados, ou tenham a ajuda esperada. Porém é um caminho possível se não estiverem sulcados de preconceitos promovidos por teorias repletas de significados isolados, ou importados, e de práticas repetitivas levando seus discentes a exaustão e conseqüente aversão ao estudo. O professor precisa ter conhecimento necessário que o leve a aprimorar e evoluir sua prática, que proporcione alegria de aprender e satisfação de ensinar. A educação nunca foi algo pronto, nem nunca teve fim em si mesma. Felizes os educadores que tiverem consciência disso.
Referências Bibliográficas:
• MAGALHÃES, Ana Maria; ALÇADA, Isabel. Ler ou não ler, eis a questão. Porto Alegre: Kuarup, 1990.
• LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Alfabetização: Um projeto bem sucedido. São Paulo: Edicon, 1982.
• LEITE, Sérgio Antônio da Silva. Alfabetização e Letramento, Contribuições para as práticas pedagógicas.Campinas: Komedi, 2003.
• ROCHA, Armando Freitas da. Uma reflexão sobre duas teorias. Diário do Grande ABC – Diário na escola, Setembro 2002. Disponível em <http://www.diarionaescola.com.br/06se03.pdf> Acesso em 10 mai 2005.
• SOARES, Magda. A reinvenção da alfabetização. Revista Presença Pedagógica, Julho/Agosto 2003. Disponível em <http://www.editoradimensao.com.br/revista52 trecho.htm> Acesso em 24 abr 2006.
• FERNANDO CÉSAR CAPOVILLA, Mudanças no processo de alfabetização e a introdução do método fônico. São Paulo: Coleção Educativa, n.3, p. 6-9, março, 2006.
• CURTO, Lluís Maruny; MORILLO, Maribel Ministral;TEIXIDÓ, Manuel Miralles. Escrever e Ler: como as crianças aprendem e como o professor pode ensiná-las a escrever e a ler. Porto Alegre: Artmed, 2000.
|