As vezes ela ficava por horas trancada no quarto. Ouvindo música, lendo, pensando... Pegava uns calmantes que a mãe tomava escondido pra "relaxar", e quase sempre acabava dormindo até o outro dia.
Chegava até a confundir sonho com realidade, e isso era até bom, porque quase sempre os sonhos são melhores.
Ela não tinha muitos amigos, quase nenhum. Na verdade, ela mesma preferia ficar só. Andar sozinha pela cidade, comprar livros e lp's velhos, colheres de prata, colares bolivianos e cigarros.
Gostava de tirar fotos nada prováveis pela cidade, ou da visão que tinha da cidade.
Tudo sozinha, porque quem iria querer fazer essas coisas?
Geralmente faltava as aulas pra ficar fazendo isso por aí, gostava muito de ir até a igreja da Sé. Achava deslumbrantes os vitrais, as escultras e até o som do órgão. Apesar de não ter uma religião, acreditava em Deus. Ou pelo menos achava isso.
Marcos não era má companhia, mas ele preferia não ir à todos esses lugares, fazer esse tipo de coisa, era muito diferente de Roza. E ela temia pelos dois. porque a cada dia eles ficavam piores, mais desinteressados e ambos tinham essa conciência.
De vez em quando conseguiam alguns empregos temporários, mas estavam prestes a se formarem, e não tinham nada. Nem dinheiro pra irem embora. E mesmo que tivessem, iriam pra onde? eles não sabiam.
mas e se ela desistisse de tudo? e se ele desistisse de tudo? o que ia ser? Dois grandes fracassos!
Que mentira! não havia "dois" era só Roza com ela mesma, como sempre.
Era só mais um sonho que ela tinha confundido, agora já estava de volta no quarto dentro das mesmas paredes que a olhavam com ar de pena, e sussurravam: " vá longe Roza... dentro de você há muito mais do que do lado de fora de nós..."
|