Em plena rua Vinicius de Morais, coração de Ipanema, um sujeito descalço, pijama listrado, olhar sonâmbulo, arrastando atrás de si, fios, tubos e até mesmo um pedestal hospitalar como soro e tudo? A história que eu vou contar não chegou a tanto, mas foi quase isto.
Vivo dizendo que para ser internado em hospital, só mesmo levando médico e advogado. Pois o relato que eu faço já começa com advogado, porque o plano de saúde enrolou e não queria autorizar a internação. Entrou-se com processo e o juiz, corretamente, achou que demora é negação, obrigando o seguro a conceder a autorização.
Internado, procedeu-se à cirurgia, correu tudo bem, mas no pós-operatório notou-se pequena arritmia cardíaca. O cirurgião responsável achou que se tratava de coisa menor, que poderia ser resolvida com um exame suplementar feito fora do hospital, mas o plantonista insistia em manter o paciente internado em observação.
Como o hospital não possuía a aparelhagem necessária para fazer um exame mais apurado da questão cardíaca, foi providenciada uma transferência para um hospital do mesmo grupo em Ipanema. Lá foi finalmente feito o exame, mas o resultado custava a sair. Enquanto isto o paciente na UTI, monitorado, incomunicável, sem celular e visita diária restrita a uma hora.
Os familiares e o paciente pressionando pela liberação, o médico do hospital dizendo que havia que aguardar o resultado do exame, mas quedê o resultado que não saía? Nervoso com a demora e o ambiente claustrofóbico da UTI o paciente começou a reclamar. No início foram rogos e súplicas, seguiram-se resmungos e blasfêmias, acabando em gritos e impropérios. A direção do hospital ficou preocupada. E se a moda pegasse? Já imaginou toda a UTI aos berros de "tirem-me daqui"? Tratava-se de subversão perigosa, não da ordem pública, pois o hospital era privado, mas subversão é subversão.
Ameaçaram com tranquilizante, mas, familiares e paciente unidos, mais o reforço do médico da família conseguiram evitar o cala-boca. Felizmente. Transformasse o homem em uma múmia, ele só saía no sarcófago.
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