Origem da música.
Não se sabe ao certo sobre o surgimento da música, o que sabemos, é que ela está presente em diversas culturas, à 4.000 a.c no Egito, o sacerdotes já utilizavam a música para rituais, treinando coros e cantos, os palestinos criaram tantas musicas quanto os egípcios, sendo essas, voltadas à cânticos hebraicos.
Os chineses acreditavam que a música possuía poderes mágicos, refletindo na ordem do universo, já os gregos acreditavam que o próprio universo cantava, pois eles produziam diferentes tonalidades harmônicas, utilizando as notas do alfabeto para representar notas musicais.
A música e a matemática poderiam fornecer a chave para os segredos do mundo, essa crença demonstrava a importância da música no culto grego, assim como na dança e nas tragédias.
Com todas essas interpretações em relação ao surgimento da música, resolvemos escrever o que ela nos causa interiormente, a partir da concepção de Snyders (1992, p.103), a música é:
Possibilidade de interpretações múltiplas, apelo a interpretações múltiplas; em função dessas características, a música incorpora-se estreitamente ao vivido pelo indivíduo. Abre-se caminho à imaginação, que vai se deleitar em achar explicações mais ou menos figuradas àquilo que sente; teríamos sempre, interminavelmente de dizer, numa dessas aproximações do indizível, que a música é algo inesgotável.
Existem muitas teorias sobre a origem e a presença da música na cultura humana. Cada cultura e época interpretam a linguagem musical de maneira diferente, respeitando a sintonia com o modo de pensar e com os seus valores.
Ao longo da história, a música desempenha um papel muito importante no desenvolvimento do ser humano, seja no moral, no social, no aspecto religioso, enfim, ela contribui para a aquisição de hábitos e valores indispensáveis ao exercício da cidadania.
A palavra música vem do grego MOUSIKÊ, juntamente com a dança e a poesia, a “Arte das musas,” o ritmo faz parte das três artes fundindo-se numa só. Nas civilizações antigas os gregos ofereciam aos deuses sua música, tendo como objetivo alcançar a perfeição, através da expressão integral do espírito.
Desde os primórdios da civilização eles já consideravam a música uma arte, uma maneira de pensar e de ser. Na infância eles aprendiam o canto como algo capaz de educar e civilizar, o músico era visto com o guardião de uma ciência e de uma técnica, seu talento e sabedoria, precisavam ser desenvolvidas pelo exercício e estudo. O reconhecimento da música neste país, fez com que surgissem as primeiras preocupações com a pedagogia da música, permitindo tornar-se parte de todo cultivo da inteligência[1].
A educação musical não significa saber tocar algum instrumento musical, mas sim estudar a fundo todas as artes liberais, a escrita, a matemática, o desenho, a declamação, a geometria e a física. Esta educação era concebida com a relação harmoniosa entre o corpo e a mente, seu objetivo era preparar cidadãos para a sociedade. Na visão dos gregos a educação possuía uma função mais espiritual do que material, tendo o objetivo principal a formação de caráter do sujeito e não apenas aquisição de conhecimentos, buscava uma educação plena vinda de dentro do aluno não baseados apenas em livros, mas na experiência de vida de cada pessoa. Segundo Bauab, (1960, p.58-59):
A poesia, o drama, a história, a oratória, as ciências, e a própria música estavam incluídos na extensão do termo música. Os poemas, compreendidos e memorizados, eram entoados com acompanhamento da lira. Portanto, mais importante do que a destreza técnica era o saber improvisar um acompanhamento em harmonia com o pensamento expresso no trecho recitativo. Por ser ensinado com música (o ritmo facilitava a memória), o ensino era atraente, agradável”. (apud Loureiro, 2001).
A música é indispensável à educação do homem livre, sendo considerada fonte de sabedoria, ela pode inserir no espírito do ser humano o sentido de ritmo e harmonia. Segundo Platão, a educação musical é vista como pré-requisito ao conhecimento filosófico, para ele, o ensino de música deveria ser adequado a idade dos discípulos iniciando-se pelas canções e depois hinos guerreiros e religiosos, para os jovens entre 14 anos e 16 anos, ele aconselhou a prática de dois gêneros de música: música violenta é adequada para a guerra, e a tranqüila propícia à prece e a concentração, depois dos 16 anos os indivíduos deveria freqüentar apenas cantos corais e os jogos comunais.
Não há dúvida de que todos os que viveram plenamente a música receberam boa dose de cultura. Recordemo-nos que Platão insistia em que a educação devia concentrar-se em duas atividades: a ginástica e a música. A primera, com treinamento do corpo, e a segunda, do espírito. Uma educação que excluísse a música não podia ser considerada completa. A música é uma parte intrínseca – consciente ou não – de cada ser humano. (GAINZA, 1982, P.16)
O ensino de música deveria ocorrer de acordo com a idade dos alunos, dos 7 aos 14 anos fase inicial, onde o conteúdo ministrado seria a ginástica e a música, através destas disciplinas os alunos adquiriam conhecimentos em poesia, história, drama, oratória, e ciência, sendo destinada a maior parte do tempo ao ensino musical. A segunda fase da educação musical ocorreria por volta dos 20 anos até os 30 anos de idade, as disciplinas neste estágio eram: astronomia, gramática, aritmética e música. A terceira fase era para concluir a educação musical que levava mais de cinco anos, onde o aluno estudava a dialética.
Com a invasão do Império Romano na Grécia, ocorrem alterações, pois a sensibilidade, as emoções e o sentimento de humanidade dos gregos não se adequavam a formação dos soldados romanos, que eram educados para serem rígidos, severos, e disciplinados, mas com a influência da Grécia, Roma deixa florescer as artes e as letras e ao decorrer do tempo a educação musical ganha espaço no território romano, que passa a estudá-la como ciência, privilegiando seu aspecto teórico e prejudicando o conhecimento prático, tendo-se um rompimento da visão integrada da música, ou seja, da separação entre a música com a mente e música com o corpo.
A Igreja Católica durante a Idade Média demonstra grande interesse pela música nos cultos, acreditando-se que a música tinha grande influência sobre os homens, à igreja encoraja o estudo da música como uma disciplina teórica inserida no domínio das ciências matemáticas, situando-se ao lado das disciplinas aritmética, astronomia e geometria, a igreja apoiava o ensino da música.
O efeito sedutor da música é citado por Reis (1993, p.58):
A música poderia exercer sobre o homem poder maléfico ou benéfico, por imitar a harmonia das esferas celestes, da alma e das ações. Com seu encanto sedutor poderia conduzir perniciosamente o homem , através de um complexo de emoções não recomendável, como também teria condições de realizar o inverso, contribuindo, de modo eficaz, para a educação da juventude. Daí, a necessidade de se colocar a música sob a administração do Estado, sempre a serviço da edificação espiritual humana, voltada para o bem da polis, almejada como cidade“just.”.(apud Loureiro, 2001).
A música na Idade Média é regulada no ideal grego como ciência e como arte recuperando a sua natureza de linguagem expressiva de sentimentos humanos, nesta época surgiram as primeiras tentativas para cantar a duas ou mais vozes. Lutero insistiu para as autoridades públicas a necessidade da criação de escolas, onde visava à educação de catequizar o povo. A música ocupa um lugar de destaque nas escolas protestantes, nelas as crianças aprendiam não só a cantar, mas recebiam noções de escrita musical.
Um dos principais recursos utilizados pelos jesuítas no processo de escolarização dos jovens europeus é o ensino da música com a intenção de forma um bom cristão, nesta época a disciplina estava presente no currículo, mas com fim estritamente religioso.
A visão de música livre surge em Pestalozzi e Froebel, herdeiros de Rousseau que defendiam uma educação baseada no respeito à natureza humana, às necessidades e interesses. A experiência é vista com pré- requisito para aprendizagem, por isso ambos defendiam um ensino baseado em métodos intuitivos, colocando a criança em contato com a realidade desenvolvendo a observação, análise de objetos e fenômenos da natureza abrindo caminhos para uma educação musical.
Pestalozzi e Froebel dão inicio ao ensino da música, que se concretiza no século XX por Orff, Dalcroze, Kódaly, Willems, Gainza, Martenot, Schafer, propondo uma nova metodologia para o ensino da música, onde o fazer musical, a exploração sonora, a expressão corporal, o escutar e perceber consciente, o ato de improvisar e criar troca de sentimentos, a vivência pessoal e a experiência social, oportunizam a experiência concreta antes da formação abstrata[2].
A nova proposta de ensino musical ressalta a importância da prática livre experimental, valorizando o processo natural de desenvolvimento artístico- musical causando ação do sujeito sobre objeto, o reflexo da nova proposta afeta os conservatórios musicais, que o objetivo era modernizar a maneira de musicalizar as crianças preocupando-se com as diferenças individuais dos alunos.
A vinda dos jesuítas para o Brasil tem a intenção de catequizar e evangelizar os índios, criar colégios para os filhos da elite, sociedade européia. A música tem um destaque maior entre os recursos utilizados para o ensino das escolas brasileiras, baseadas na forte ligação dos indígenas com a manifestação artística, eles eram músicos natos, em harmonia com a natureza, cantavam e dançavam em louvor aos deuses, durante a caça e a pesca, em comemoração ao nascimento, casamento, morte, ou festejando vitórias alcançadas.
Os padres jesuítas se apropriavam da música para comunicar sua mensagem de fé a nativos, os jesuítas chegaram a criar uma cartilha musical, a importância atribuída à música na catequese fez com que integrasse no currículo ler e escrever, onde também era ensinado á gramática e o latim.
A música na escola passa por grandes modificações ao decorrer do tempo, deixando de ser tão importante e valorizada como era no século passado pelos gregos perdendo sua importância no currículo escolar.
Embora a música tivesse um papel definido na organização escolar, sendo um componente importante de sua cultura, a escola passa utilizar o canto como forma de controle e integração dos alunos, dando pouco valor aos aspectos musicais.
De acordo com a nova política, o papel da escola consistia na formação de recursos humanos necessários ao desenvolvimento do país. Essa preocupação provoca alterações no currículo das escolas. Entre estas modificações, a disciplina Música passa a integrar, juntamente com as Artes Plásticas e o Teatro, a disciplina Educação Artística (hoje denominada simplesmente Arte), estabelecida pela lei nº5692/71, em seu Art. 7º 2. As novas disposições legais imprimem um novo sentido ao ensino da arte nas escolas. Incorporando o discurso veiculado pelo movimento Arte-Educação, a música passa a ser considerada como uma entre as diversas formas de expressão artística.
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