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JOGOS E BRINCADEIRAS NA HISTÓRIA
SIDNEY PRADO PEREIRA

Resumo:
JOGOS E BRINCADEIRAS SÃO PASSADOS DE GEREÇÃO EM GERAÇÃO, NO TRASCORRE DA HISTÓRIA TINHAM OBJETIVOS OS ASPECTOS RELIGIOSOS E MILITAR, PORTANDO CRENÇAS E VALORES,NO BRASIL TEM SUAS ORIGENS NA AGLUTINAÇÃO NAS CULTURAS IDIGINAS, PORTUGESAS E AFRICANAS.

Os jogos e brincadeiras tradicionais podem ser consideradas atemporais
tendo grande importância no passado na formação cognitiva e social de várias
gerações, trazendo em si valores que foram transmitidos nos decursos dos séculos,
que outrora estava disposto a níveis secundários na formação das crianças, mas,
utilizado como entretenimento pelos adultos.
Jogos e brincadeiras tradicionais são aqueles que são passadas de geração
para geração, sendo considerada uma herança cultural, que sofrem alterações de
acordo com os países e seus contextos sociais. (FRIEDMANN, 1992. p. 11).
Há relatos que remontam aos séculos antes de Cristo, que nos mostram que
estes jogos se mantiveram sem alteração no passar dos séculos. Estas brincadeiras
tinham como objetivos os aspectos religiosos e militares. “A representação sagrada
e a competição solene são duas formas que sugerem constantemente na civilização,
permitindo a esta desenvolver-se como jogo e no jogo.” (HUIZINGA, 2000, p 39).
A representação sagrada dos jogos e brincadeiras (festa religiosa) é
encontrada nos solstícios da primavera, na forma de competição o jogo é muito bem
representado pelos gregos na organização das Olimpíadas que também não de
deixavam de estar ligada implicitamente às divindades.
Jogos tradicionais, transmitidos oralmente desde a Antiguidade eram, como
qualquer objeto cultural, um espelho de sua época. Portavam crenças,
valores, discursos. Traziam em si a representação da forma tradicional de
viver e compreender a existência. São jogos que falam do grande jogo da
vida. A grande maioria teve função como objeto sagrado ou de ligação
como o sagrado. (SALTO PARA O FUTURO, VASCONCELLOS,2008 p. 49)
São encontrados relatos na história que as formas do brincar não se
diferenciavam conforme o gênero, sendo que meninos e meninas compartilhavam
dos mesmos brinquedos, fato que descreve que Luiz XIII brincava com bonecas e de
fazer comidinha. (CADERNOS DE HISTÓRIAS DA EDUCAÇÃO, BERNARDES,
2005.p. 47).
As brincadeiras tradicionais que conhecemos nos dias de hoje chega ao Brasil
com a colonização portuguesa abrangendo somente a infância que ia em média até
os 10 anos, após este estágio eram considerados adultos, recebendo a pecha do
estigma e estereótipos do adulto.
Com a pluralidade cultural adjacente ao convívio dos portugueses, indígenas e
posteriormente com os escravos, jogos e brincadeiras tradicionais são forjadas
aglutinando os pressupostos e paradigmas culturais, religiosos e políticos, gerando o
nosso folclore, lendas e brincadeiras através desta miscigenação sócio-étnicacultural.
No auge do escravismo os filhos dos Barões do Café tinham uma relação de
domínio com as demais crianças negras, em que as brincadeiras eram calcadas na
violência e na subserviência. “Os senhores também adquiriam as crianças
escravizadas para dar de presente para seus filhos, e servirem de companheiros de
brincadeiras, equivalente a dar um bichinho de estimação”. (SILVA, 2018, p.47).
Normalmente estas brincadeiras ocorriam em áreas abertas como nas matas,
rios, campos entre outros, favorecendo o lúdico, no sentido do prazer e liberdade
que eram proporcionados. Juntamente com estas brincadeiras eram externados os
elementos da natureza, religiosos e sociais.
Para os indígenas a educação é a perpetuação da sua cultura estavam
intimamente ligadas nos jogos e brincadeiras e nos respeitos as regras transmitidas
pelos seus antepassados.
Historicamente as brincadeiras tradicionais sempre foram vistas de forma
depreciativa pela sociedade e principalmente pelos pais (Psicologia: Teoria e
Prática, 2003. p. 52). No início do século XX que se encontra grande incidência de
relatos da diversidade de jogos e brincadeiras, nos anos 70 a maior preocupação
dos pais era o aumento do tráfego de automóveis, que crescia a cada dia e
posteriormente o aumento da criminalidade. (Caderno de História da Educação,
BERNARDES, 2005. p. 50)
Portanto, “precisamos reconhecer que já fomos crianças e relembrar como o
brincar foi importante em nossa formação e, ao mesmo tempo, ver e escutar a
criança que está dentro de nós.” (Salto para o futuro, VASCONCELLOS, 2008. p.6).
Somente nos últimos dois séculos que as crianças começam a ser tornar
objeto de estudo sobre os benefícios do brincar considerando a infância com direito
de ser criança.
Gradativamente, no entanto, as crianças foram sendo alijadas do convívio
com os adultos e do espaço urbano. O espaço das crianças foi se limitando
cada vez mais, até se tornar um conjunto de pequenas áreas, ou locais de
consumo. Houve um processo de infantilização da brincadeira e uma
progressiva desvalorização já que, num mundo orientado pelo lucro, ela é
considerada uma atividade não produtiva. (SALTO PARA O FUTURO,
PORTO, 2008, p. 28).
Mais a história é cíclica e desde o final do século XX vemos um declínio do
brincar entre as crianças de todas as faixas etárias, em que o modismo, consumismo
fomentado por um marketing selvagem utilizando todos os subsídios pelos meios de
comunicação.
Quem não se lembra de sua infância, das brincadeiras e dos brinquedos? E
dos amigos, vizinhos e primos, quando se reuniam no final da tarde, antes ou depois
da escola, nas noites de verão? Brincavam de amarelinha, pega-pega, escondeesconde, duro ou mole, seu mestre mandou, polícia e ladrão, bolinha de gude, taco,
cantigas de roda, bang-bang, casinha, cabo de guerra, elástico, estrela nova cela,
cabra cega, dentre outras, isso para meninos e meninas. Isso acontecia tudo ao
mesmo tempo, na escola, na igreja, na rua ou em casa. São estas brincadeiras a
qual nomeamos como tradicionais.
Conforme a afirmação de Friedmann (1992. p. 11). “Jogos e brincadeiras
tradicionais são aqueles que são passadas de geração para geração, sendo
considerada uma herança cultural, que sofrem alterações de acordo com os países e
seus contextos sociais.” Vemos que as brincadeiras tradicionais estão no âmago do
desenvolvimento e da evolução da humanidade, sendo indissociável da sua vida,
portanto a localização geográfica, política, econômica e social influência nas regras e
nas formas como os jogos são praticados.
Comumente achamos que as brincadeiras tradicionais são passadas de
geração a geração pelos mais velhos, mas este legado não é privilégio somente dos
adultos, mas principalmente das crianças. Isso acontece entre as crianças mais
velhas e as mais novas. “Brincar faz parte da educação humana. Através do brincar
as crianças aprendem a cultura dos mais velhos, se inserem nos grupos e conhecem
o mundo que está ao seu redor”. (CARNEIRO; DODGE, 2007. p.33).
Brincadeiras tradicionais ou brincadeiras de rua que trazem em si uma
bagagem histórica e cultural, transpassando vários séculos. Podendo ser verificada
na sua gênese, favorece a socialização. Nestas brincadeiras há uma necessidade
de um número significativo de participantes e de uma grande área, que outrora
ocorria no campo, nos terreiros dos sítios e fazendas, nas praças e nos quintais da
própria casa. Com o êxodo rural no início do século XX e o crescimento das cidades
absorvendo estas famílias e a diminuição das casas e consequentemente das áreas
que comportassem uma grande quantidade de crianças, levando estas brincadeiras
para as ruas.
Até a metade do século XX, as cidades não eram tão grandes em tão
violentas e havia espaço para brincar na rua, no quintal, nos terrenos vazios
e nas praças. Grupos dês crianças de idades e origens sociais variadas
participavam das brincadeiras. O brinquedo industrializado já circulava na
cidade, mas era ainda restrito à classe média. A sociedade de consumo, no
entanto, não tinha se consolidado e os adultos (pais, tios, avós, vizinhos)
ainda contribuíam ativamente para as experiências lúdicas das crianças,
confeccionando bonecas de pano, carrinhos de madeiras e bolas de meia,
ou participando das brincadeiras, propondo cirandas, batendo corda ou
riscando o jogo de amarelinha no chão. (SALTO PARA O FUTURO,
PORTO, 2008 p. 28).
A interatividade proporcionada pelas brincadeiras de rua favorece
desenvolvimento cognitivo da criança e as preparam para a inserção no mundo dos
adultos, sendo que através do brincar a criança constrói sua personalidade,
incutindo valores morais, sociais e de solidariedade.
É brincando que as gerações mais novas são introduzidas nos costumes
dos mais velhos. Historicamente foi a brincadeira que garantiu a
perpetuação de muitos costumes. Existe, pois nas diversas sociedades,
uma cultura lúdica que é anterior à criança e que influência o seu brincar.
Ela é peculiar ao local, à idade, ao gênero e até mesmo à classe social.
(CARNEIRO; DODGE, 2007. p.36).
Tentar definir o que é jogar e brincar é tarefa complexa, considerando que a
palavra “brincar” só existe na Língua Portuguesa (Brasil), nos demais países a
palavra “jogar” é utilizada para designar todas as atividades lúdicas da criança tanto
para ações espontâneas quanto para ações envoltas em regras e competitividades.
No ensino infantil ou é liberal ao extremo onde as crianças fazem o que
querem sem o devido acompanhamento do educador, alegando ser o fundamento
do construtivismo, ou, pedagógico demais, engessando a autonomia da criança com
jogos educativos, pois tudo tem um propósito pedagógico e sistemático,
desconsiderando o lúdico.
Friedmann ilustra muito bem quando afirma:
A infância tornou-se pedagogizada: o objetivo básico dos pedagogos dentro
das instituições e das famílias era o de criar o novo o homem; os
documentos da época mostram as medidas aplicadas para suprimir a esfera
físico-sensorial-emocional e estabelecer propriedades racionais, produtivas
e disciplinadas da personalidade. (FRIEDMANN, 1992. p.26).
O comportamento da sociedade contemporânea continua ver o brincar como
algo sem importância, pois as gerações anteriores gozaram do privilégio de ter uma
cidade demograficamente menos populosa. O lúdico era parte integrante da sua
vida, podendo dizer que tiveram uma infância saudável, a televisão era para poucos,
internet, celular, simplesmente não existiam, eram bons tempos.
As escolas eram amplas, arejadas, arborizadas, ou seja, tinha espaço para
brincar, no intervalo corriam, pulavam, brincavam de cantigas de roda, pular corda,
levam para escola as brincadeiras de ruas, brincadeiras que pertenciam ao seu
universo.
Com isso a incidência de violência entre os alunos era pequena, dentro do
que consideramos aceitáveis, essa agressividade não era controlada por
mecanismos ou métodos pedagógicos implementadas pelos professores. O que
acontecia, é que as brincadeiras favoreciam uma interação profunda. O brincar traz
consigo a relação de convivência gerando a reciprocidade mútua de: respeito,
solidariedade, amizade, companheirismo, generosidade, entre outros.
Através desta perspectiva Friedmann ressalta que:
Porque brincar é essencial à saúde física, emocional e intelectual do ser
humano. Brincar é coisa séria, também, porque a brincadeira não há
trapaça, há sinceridade, engajamento voluntário e doação. Brincando nos
reequilibramos, reciclamos nossas emoções e nossa necessidade de
conhecer e reinventar. E tudo isso desenvolvendo atenção, concentração e
muitas outras habilidades. (FRIEDMANN, 1992. p.35).
Então, o que aconteceu com essa geração privilegiada que hoje são pais e
mães, que veem nas brincadeiras algo pernicioso, improdutivo, alienante. O que
aconteceu para renegar seu passado, sua infância?
Antes de qualquer coisa precisamos situar que a escola até os meados dos
anos 80 operava com o ensino tradicional e tecnicista, excludente, segregadora e
seletivo instrumento de depuração social, com intuito de condicionar o aluno a suprir
a mão-de-obra. Neste processo educacional os momentos de diversão, brincadeiras
eram consideradas irrelevantes. Vedando a autonomia cognitiva que diverge do
mecanicismo ensinado na escola valorizado por uma sociedade capitalista. Assim
reprimindo a infância de muitas crianças.
Consequentemente as gerações predecessoras com a necessidade de suprir
uma necessidade econômica, vê sua infância sendo subtraída, com a anuência dos
pais, escola e sociedade. Com cada vez menos se tem a presença da mãe em casa
que é obrigada a trabalhar, sendo transferida a criança a responsabilidade de cuidar
da casa e dos irmãos mais novos.
Agora a mesma sociedade capitalista que incentivou o mecanicismo, reduz a
mão-de-obra braçal por mão-de-obra técnica, que exige raciocínio, autonomia,
criticidade, onde as crianças veem seus pais perderem seus empregos e muitas
delas são iniciadas precocemente no mercado de trabalho, antes para a sua
subsistência, agora para suprir um desejo consumista.
Em que o brinquedo de última geração, bonecos que se movimentam e fala,
carros de controle remoto, notebooks, e toda parafernália digital tem substituído as
brincadeiras tradicionais.
O ser humano na era digital vem sofrendo um processo de involução, quando
já não interage com os seus pares e está interação ocorre muitas vezes num mundo
virtual ou num universo paralelo, onde cada um estabelece a coletividade de forma
individualizada dentro de suas cavernas.
A escola tem como dever social equalizar estes problemas, implantado de
forma produtiva os fundamentos do construtivismo. Mas continua presa a valores e
metodologias ultrapassadas, praticamente abolindo a brincadeira, ou quando existe
são impregnados de metodologias pedagógicas, normas e regras tornando-as
distantes da realidade da criança. “Existe uma certa confusão por parte dos
professores, que chamam de brincadeira uma série de atividades que podem ser
lúdicas, mas que não são propostas nem desenvolvidas pelas próprias crianças.”
(SALTO PARA O FUTURO, PORTO, 2008, p. 37)
Desconsiderando que:
O brincar favorece a descoberta, uma vez que auxilia a criança na
concentração, na observação, na percepção, na análise, no
estabelecimento e no teste de hipóteses, fazendo com que descortine o
mudo ao seu redor e adquira competências e habilidades, pois o fazer
também de do saber. (FRIEDMANN, 1992. p.33).
Concernente a esse processo pedagógico, Brougère declara que: “A
pedagogia adequada está inscrita nos instrumentos espontâneos do
desenvolvimento psicológicos da criança.” (BROUGÈRE, 1988.p.88).
Portanto, através da interação entre criança-criança que os jogos e
brincadeiras tradicionais tem fixado sua permanência no transcorrer dos séculos
passando de geração a geração, disseminando a história e o folclore que são as
nossas raízes culturais sendo personificadas através do lúdico.
A brincadeira permite decidir, pensar, sentir emoções distintas, competir,
cooperar, construir, experimentar, descobrir, aceitar limites, surpreenderse...
Mas será que professores que atuam com as crianças tiveram uma
formação que valorizasse sua própria criação, imaginação e ludicidade?
O certo é que a história de cada brinquedo se entrelaça à história de cada
professor e de cada criança que dele se apropria. O interessante é que haja
trocas entre adultos e crianças. (SALTO PARA O FUTURO, PORTO,2008,
p. 31)
Nos próximos capítulos procuraremos traçar um esboço sobre, por que as
escolas têm resistido a implementar atividades lúdicas para a melhoria do ensinoaprendizagem? Verificar se o uso destas brincadeiras podem ser um dos fatores
preponderantes para a redução da agressividade entre os alunos.
Com isso questionar o sistema de educação. A estrutura arquitetônica
escolar é impedimento para o desenvolvimento das brincadeiras? Ou será a
formação inicial dos professores que não aborda o lúdico como um meio de ensino?
Ou também a desvalorização da profissão tem impedido de inovarem suas práticas
metodológicas? Os jogos e brincadeiras pressupõem interação, troca, sensibilidade,
afetividade, respeito e transmissão de valores.


Biografia:
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