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O niilismo no senso comum da atualidade
Giulio Romeo

O niilismo, em seu sentido filosófico clássico, é a crença de que a vida não possui um sentido ou valor intrínseco. Embora esse conceito tenha raízes profundas na filosofia ocidental, particularmente associado a pensadores como Friedrich Nietzsche, sua presença e interpretação no senso comum da atualidade assumem diferentes formas, muitas vezes menos rigorosas ou filosóficas e mais ligadas a sentimentos e comportamentos sociais.

O niilismo no senso comum da atualidade se refere, de maneira geral, a uma visão de mundo que rejeita ou questiona a existência de valores absolutos, sentido intrínseco da vida e normas universais. O termo "niilismo" vem do latim nihil, que significa "nada". Na filosofia, o niilismo tem sido associado a correntes que negam a existência de fundamentos objetivos para a verdade, a moralidade ou o propósito da existência.

Atualmente, o niilismo tem ganhado uma versão mais diluída e menos filosófica, muitas vezes ligada a sentimentos de apatia (falta de interesse) e desilusão. No senso comum, ele é frequentemente associado a uma atitude cínica ou pessimista, onde as pessoas acreditam que "nada realmente importa" ou que "tudo é vazio". Essa visão pode surgir em resposta a desafios contemporâneos, como a complexidade política, a incerteza econômica, as crises ambientais, ou mesmo o aumento da ansiedade e depressão na sociedade moderna.

1. O Niilismo na Filosofia Clássica

Originalmente, o niilismo surgiu como uma reação contra o otimismo iluminista e as estruturas religiosas e morais estabelecidas. Para Nietzsche, o niilismo era um problema que surgia com a "morte de Deus", ou seja, o colapso das tradições morais e religiosas que antes forneciam sentido à vida. O resultado seria uma crise de valores, onde os antigos sistemas de significado se mostrariam insustentáveis, levando as pessoas à desesperança ou ao vazio existencial.

2. Niilismo no Senso Comum Contemporâneo

No contexto atual, o niilismo é frequentemente interpretado de maneira mais ampla e menos filosófica. No senso comum, o termo muitas vezes descreve atitudes cínicas, apáticas ou pessimistas em relação à vida, à sociedade e ao futuro. Esse niilismo contemporâneo pode ser visto como uma resposta a uma série de fenômenos sociais e culturais:

Desencanto com Instituições: Muitas pessoas, especialmente jovens, expressam descrença e desconfiança em relação a instituições tradicionais, como a política, a religião e até mesmo a ciência. O colapso da confiança nessas estruturas pode levar a um sentimento generalizado de que "nada importa", uma característica típica do niilismo.

Cultura de Pessimismo: Em um mundo marcado por crises ambientais, desigualdades econômicas, tensões políticas e incertezas sobre o futuro, muitos adotam uma visão pessimista sobre a possibilidade de mudanças significativas. Esse pessimismo às vezes se traduz em uma forma de niilismo cultural, onde os indivíduos se sentem impotentes ou indiferentes em relação aos problemas globais.

Niilismo Existencial e o Vazio: Na era digital, onde as redes sociais e a sobrecarga de informações criam um excesso de estímulos e comparações constantes, muitos relatam sentir um vazio existencial. A busca incessante por validação e sucesso pode levar à percepção de que, no final, esses esforços são fúteis, gerando uma sensação de apatia e desconexão.

O niilismo existencial é uma variação importante, que afirma que a vida em si não tem um propósito pré-definido. No senso comum, isso pode se manifestar em uma sensação de desesperança (falta de esperança), especialmente entre os jovens, que podem sentir que suas escolhas ou vidas não têm um significado real em um mundo cada vez mais imprevisível.

3. Manifestações do Niilismo na Cultura Pop

O niilismo também se manifesta de forma bastante visível na cultura popular, particularmente em filmes, séries e música. Obras que exploram a ideia de que a vida é desprovida de significado, ou que apresentam personagens cínicos e desiludidos, têm ganhado destaque.

Séries e Filmes: Produções como Rick and Morty e BoJack Horseman trazem à tona o niilismo através de personagens que expressam cinismo e desencanto com a vida. Esses personagens questionam o valor da existência, frequentemente abraçando uma visão niilista como um mecanismo de defesa contra o sofrimento e a incerteza.

Música: A música contemporânea também reflete um sentimento niilista em vários gêneros. Letras que falam sobre depressão, apatia e a falta de sentido na vida são comuns em estilos como o rap, rock alternativo e pop, frequentemente ressoando com uma geração que lida com questões de saúde mental e crises existenciais.

Popularização na Mídia
O niilismo também tem sido popularizado através da mídia e da cultura pop. Séries de TV, filmes e música frequentemente exploram temas niilistas, retratando personagens que lutam contra um sentimento de vazio ou que adotam uma postura indiferente diante das questões éticas ou existenciais. Um exemplo disso é a série "Rick and Morty", onde o humor e a trama muitas vezes giram em torno da ideia de que o universo é indiferente à existência humana.


4. Niilismo e Individualismo

Outro aspecto do niilismo atual é sua ligação com o individualismo exacerbado. À medida que as pessoas se afastam de ideais coletivos, como religiões organizadas ou projetos sociais abrangentes, elas podem se sentir isoladas em suas próprias buscas por significado. Sem um senso de propósito coletivo, muitos acabam adotando uma visão niilista, na qual a única realidade aparente é a experiência individual imediata, muitas vezes sem um horizonte maior de significado.

5. Niilismo e Ironia

No discurso público e nas interações digitais, a ironia também é uma expressão contemporânea do niilismo. Muitas vezes, em vez de enfrentarem diretamente os dilemas existenciais ou sociais, as pessoas recorrem ao humor cínico e à ironia. Essa postura irônica, característica da internet e da cultura de memes, pode ser interpretada como uma forma de lidar com a falta de sentido percebido na vida moderna, ou como um mecanismo de defesa contra o confronto direto com o niilismo profundo.

6. O Niilismo Passivo vs. Niilismo Ativo

Nietzsche diferenciava entre dois tipos de niilismo: o niilismo passivo e o niilismo ativo. O niilismo passivo é aquele que leva à inércia e ao desespero, uma aceitação resignada de que a vida não tem sentido. Já o niilismo ativo, segundo Nietzsche, poderia ser uma força transformadora, onde a aceitação do vazio seria o primeiro passo para a criação de novos valores.

No mundo contemporâneo, o niilismo passivo parece ser prevalente, caracterizado pela apatia, cinismo e alienação. Contudo, há também exemplos de um niilismo ativo em movimentos sociais e culturais que, em vez de se resignarem à falta de sentido, tentam reimaginar novos modos de vida e novas formas de significado.

7. Reações ao Niilismo

Embora o niilismo possa parecer um caminho para o desespero, muitas pessoas e movimentos atuais buscam formas de superá-lo, seja através da espiritualidade secular, da arte, ou da redescoberta de significados pessoais e comunitários. A busca por autenticidade, propósito individual e a valorização de experiências subjetivas são formas comuns de resposta ao niilismo contemporâneo.

Conclusão

O niilismo no senso comum da atualidade reflete a crise de valores, desconfiança nas instituições e a incerteza sobre o futuro que marcam o mundo moderno. Embora muitas vezes se manifeste como cinismo, apatia ou ironia, ele também revela uma busca profunda por novos significados em uma era de rápidas mudanças e desconstruções. No entanto, assim como Nietzsche via o niilismo como uma oportunidade para criar novos valores, o niilismo contemporâneo também pode ser um ponto de partida para a reinvenção pessoal e coletiva.

No senso comum da atualidade, o niilismo reflete uma percepção crescente de que os antigos sistemas de crença e estruturação do mundo já não fornecem respostas satisfatórias. Seja através de uma perspectiva filosófica ou uma postura mais prática e cotidiana, a presença do niilismo nas discussões modernas sobre o sentido da vida, moralidade e cultura sugere um mundo em transformação, onde a busca por novos significados se torna cada vez mais urgente.


Biografia:
Professor de Ciências da Religião, Teólogo, Filósofo e Pesquisador de Ciências ocultas. Procuro a verdade e quero compartilhar meus estudos sobre o comportamento filosófico e religioso de povos e comunidades, que tem a fé, como sustentáculo de sua existência tridimensional.
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