O fechamento do tradicional e histórico Café Girondino empobrece ainda mais o centro paulistano. Localizado na Rua Boa Vista com a Rua São Bento em frente ao Mosteiro, tive a oportunidade de frequentar algumas vezes o local. Arquitetura bem trabalhada e espaço que fazia retornar nos tempos da São Paulo antiga que não volta mais, o Girondino é vítima da pouca valorização histórica da capital paulista e o completo abandono pela preservação da Memória da cidade.
O problema em si não foi só o reflexo da pandemia. O local bem requintado, cobrava preços elevados para um público consumidor diferenciado, aproveitando o atrativo turístico que a região demanda como prédios históricos e a proximidade com o Pateo do Collegio que fica dois quarteirões para frente, local este onde nasceu a capital paulista. É uma perda significativa para a cidade pois era referência de requinte e de outros tempos resgatando a História da cidade de São Paulo.
São Paulo está perdendo muitos comércios tradicionais há algum tempo. Os casos das livrarias Saraiva e Cultura, a loja da Imprensa Oficial na Rua XV de Novembro, são bons exemplos como impactos financeiros resultam em perdas históricas importantes. No caso das livrarias, a demanda por consumo digital pelo preço mais em conta deu o empurrão ao fechamento das lojas físicas. Quem depende de conteúdo técnico e específico ficou sem muitas opções.
Voltando ao Café Girondino, ele foi palco da gravação do programa da TV Cultura chamado Café Filosófico tamanha a importância do local para o público paulistano. Seus quadros históricos relembravam bons tempos da capital paulista. O meu prazer era comprar livros na loja da Imprensa Oficial na Rua XV de Novembro, almoçar em algum dos restaurantes da 3 De Dezembro, visitar o Pateo do Collegio e tomar um café diferenciado no Girondino. Eu sentia um "fundador" de São Paulo.
A cidade de São Paulo empobrece com a perda do Café Girondino. Aquele ambiente clássico está sumindo da cidade mesmo com inúmeros imóveis que represente um passado. Eu lamento que prédios históricos na Rua XV de Novembro estejam descaracterizados assim como no centro antigo, atendendo comércios que não lembram em nada suas épocas. O absurdo parece tomar conta nestes locais com lojas de celulares, bolsas, restaurantes fora do padrão arquitetônico e etc.
Fechado o Girondino, aquela sensação de pertencimento vai embora. Eu enchia a boca para falar do Girondino e sua importância histórica para aquele centro abandonado e quase esquecido pelo poder público. Não fosse a iniciativa privada, muitos prédios teriam caído no Triângulo paulistano. A Memória precisa ser conservada sendo muito lamentável que percamos o melhor café da cidade. Não é somente um negócio e sim História. Triste.
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