O filme “O Senhor das Armas”, de 2005, narra a história de um negociante de armas que visualizou no fim da Guerra Fria, com sua respectiva tensão nuclear, um contexto propício para o tráfico de armamentos do exército russo, de forma a valer-se do temor e do aumento dos níveis de terrorismo no mundo. A produção cinematográfica é bastante enfática em demonstrar as implicações do uso e da distribuição de armas aos governos, mas que também recai na entrega de armas aos civis e à facilidade de acesso a essas munições com suas respectivas problemáticas. O personagem principal passa a ser constantemente perseguido pela Interpol e é visto como uma ameaça ao equilíbrio de armas, inclusive no estrangeiro e em continentes de vulnerabilidade social, com o intuito de obter lucros e vantagens nessa espécie de comércio, com a negligência das fatídicas consequências, o que contribui com o rompimento de laços com sua família e com o aumento crítico das taxas de violência em todo o globo.
Deslocando a questão abordada no filme para o armamento e o desarmamento da população no Brasil, pode-se constatar um ponto de contato referente ao número significativo de armas em mãos criminosas, como são contabilizadas pela pesquisa de Júlio Jacobo Waiselfisz em 3,8 milhões que estão nas mãos da população. O mesmo ocorre no filme, que apresenta altos índices de armas provenientes do tráfico de armas ou nele significativamente empregadas, o que se retrata pelo uso obscuro do armamento pelo personagem principal. Uma cena emblemática do filme ilustra a chegada de armas para uso em massa em uma comunidade africana, o que serviu para concluir que armar a população não é a solução para problemas sociais, dado o aumento de mortes, tal qual os registros da pesquisa realizada no Brasil, que constatou o aumento de homicídios e suicídios por armas de fogo no decorrer dos anos. O filme também faz uma alusão ao comércio de armas nos continentes sem a existência de um balanço formal das armas, dada a ilegalidade dos usos empreendidos, o que se relaciona com a compreensão de Waiselfisz, de que igualmente no Brasil, as estatísticas são incompletas, diferentemente das mortes ocasionadas por esses armamentos, como bem indicado em cenas trágicas do filme. Adiante, pode se pensar ainda na seletividade das vítimas de homicídio por armas de fogo, o que é bem caracterizado no filme, assim como a linha de raciocínio que conduz para o entendimento de que armas na mão da população não desestimulam o crime, mas sim incrementam os riscos de assassinato, conectando-se à uma saída proposta pelo Brasil quando a situação das armas em posse dos cidadãos passou a ser regulada pelo Estatuto do Desarmamento, de 2003. Por fim, vale ressaltar que apesar de o filme pautar-se na macro temática do tráfico de armas, suas reflexões são de ampla relevância e auxiliam na análise da posse, do porte, do uso, da circulação e do consumo de armas pela população brasileira.
Referências: O SENHOR DAS ARMAS. Direção: Andrew Niccol. Produção de Saturn Films. Estados Unidos: Lions Gate Films, 2005. DVD
Disciplina: Criminologia e Política Criminal
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