Aconteceu uma coisa engraçada na última sessão da CPI do narcotráfico durante o depoimento do Dr. Sérgio (advogado de um suposto membro de uma organização criminosa surgida nos presídios paulistas), acusado de ter comprado depoimentos reservados que, dentre outras coisas, motivaram a onda de violência e homicídios contra policiais naquele estado.
Vejam bem, o Dr. Sérgio não tem como convencer ninguém, nem a ele próprio, de que o seu crime não ocorreu. Há provas materiais, testemunhais, oculares e, para piorar a sua situação, a confissão daquele que lhe teria vendido a tal fita. Portanto, supõe-se que o doutor possui todos os requisitos necessários para ser processado, julgado e condenado.
É lógico que afrontado pelos nobres deputados na sessão da CPI, o doutor negou tudo o que fez fazendo o legítimo uso do seu direito de não depor a seu desfavor. Isso é lei e é bom, porque representa um dos pilares do estado de direito. É evidente que, diante de algumas incertezas, o doutor tenha calado na resposta fazendo uso do seu direito de não falar. Isso também é bom porque também representa um dos pilares do estado de direito.
Uma outra coisa importante que o doutor usou e abusou foi o seu direito de mentir. Mentiu e mentiu muito. Mentiu ao negar o que tinha feito, ao não lembrar de coisas que ninguém pode esquecer, ao calar (há silêncios mentirosos e silêncios verdadeiros) e mentiu também proferindo falas imperativas. Mas isso também é um direito e também é bom que seja assim. O direito de mentir é, de igual modo, um dos sustentáculos do estado de direito.
Falando aqui, calando ali, debochando lá, mentindo muito e com tudo apontando para a existência real do seu crime, eis que a CPI mostra sua brasilidade naquilo que há de pior no país: prende o Dr. Sérgio no justo momento em que ele, talvez, tenha sido mais verdadeiro. O Dr. Sérgio que, conforme as provas apresentadas, talvez seja um criminoso; provavelmente um pombo-correio de uma organização criminosa perigosa; é acusado de ameaçar testemunhas e outras tantas coisas foi preso justamente ao dizer à verdade de que a câmara dos deputados é um antro de malandros. Se ele foi preso por isso então eu serei morto porque, para mim, com as exceções devidas, o congresso não é uma casa de malandros, mas de bandidos e criminosos bem piores que os clientes do Dr. Sérgio.
Vou repetir sem medo, mas sabendo que corro riscos: a câmara dos deputados do Brasil é uma casa de bandidos, criminosos, corruptos e de pessoas que, salvo as exceções, deveriam filiar-se também ao PCC por fazerem mais mal do que bem ao país. Pior que isso é a cegueira opcional da câmara em não ver que isso é a mais pura verdade. Na verdade, para os deputados, é a verdade que dá cadeia.
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