Era só um espinho
Unzinho só
Que com crueldade me feria
Bem ali nos pés
Aliás, que bem o diga, no pé
Não podia sequer andar
Tal era o incômodo que produzia
Reclamei, gritei com razão
E com dores, muitas dores
Não o desejei em mim
Não o desejo em mim
Não o desejarei em mim
Nem para o meu maior inimigo
Nem nos pés
Nem nas mãos
Nem no corpo
Mas na minha dor solitária
Meu espinho me dói muito mais
Esqueço até das outras dores
E dos outros espinhos também
Mas na sombra, no pano de fundo
Nos camarins dos espinhos
Lá adiante, nos bastidores
Há o incêndio e, no fogo, a luz
E a luz ha de clarear o caminho
Caminho sem pedras
Caminho sem obstáculos
E principalmente se espinhos
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