Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Síntese pessoal: O que é dialética?
Isadora Welzel

Leandro Konder inicia sua obra “O que é a dialética?” trazendo uma definição ao analisar o contexto da sua origem. Já no primeiro capítulo do livro, o autor explica de forma objetiva o que era a dialética para os gregos antigos: a arte do diálogo, que com o tempo se elaborou ao discorrer sobre técnicas argumentativas. Meu entendimento sobre o tema é compatível com a dimensão filosófica trazida por Konder, visto que a boa comunicação e o pensamento interferem-se mutuamente. Ao pensar no conceito contemporâneo de dialética, nota-se que ela se vincula fortemente à realidade do mundo e busca fugir de qualquer abstração do conhecimento. No entanto, é fundamental a compreensão da linhagem histórica, passando pela Idade média, pelo pós-iluminismo, até alcançar o contratualismo, para que a análise da evolução da dialética esteja melhor respaldada pelo tempo.

Adiante em suas instigantes divagações filosóficas que muito agregaram ao meu conhecimento, Leandro Konder retrata um período de efervescência político-cultural que culmina em uma nova ordem social refletida no pensamento humano. Kant é um dos principais teóricos da época, com importantes contribuições que moldaram o conhecimento ocidental a partir da análise das contradições de seu tempo, visto que inaugura o próprio questionamento: o que é conhecer? Ao lado dele, ergue-se Hegel, que insere na filosofia a centralidade do ser, como um sujeito anterior à sua faculdade do saber e imerso em uma realidade objetiva que se caracteriza fundamentalmente pelo trabalho, o que me faz pensar em um panorama econômico das síncronas revoluções burguesas ao inaugurar uma cisão entre o homem e a natureza.

O autor aprofunda a temática do trabalho, que em minha percepção, constitui um dos grandes marcos da modernidade, uma vez que fixa os meios para atingir os ideais propagados pelas revoluções burguesas. Na perspectiva de Marx, o trabalho humaniza a natureza e a coloca em nosso favor. Aliada a isso está a maior especificidade das etapas de produção, e por consequência, uma visão mais unilateral do ser humano em sua busca pela propriedade privada em uma sociedade de classes. Para embasar esse ponto de vista, pode-se citar uma máxima de Hegel: “A verdade é o todo”, ou seja, verifica- se a importância da totalidade, que se diferencia da generalização por objetivar uma análise completa do objeto em questão. As relações complexas de uma síntese ou de uma elaboração a partir do todo, podem ser auxiliadas pela teoria de investigação metodológica em sua concretude. Nesse âmbito, revela-se o meticuloso trabalho da dialética em identificar as contradições em sua associação com a totalidade.

O título de um de seus capítulos “A fluidificação dos conceitos”, me recordou da teoria da liquidez proposta por Zygmunt Bauman. Contudo, o autor desmistificou minha ideia inicial no decorrer das páginas ao explicar a concepção marxista como uma solução material face à natureza que é por nós condicionada, ao invés da ideia de relativismo que se prende ao sentido.
Marx também analisa as mudanças e permanências dialéticas conforme a passagem do tempo e as determinações reflexivas que persistiram apesar dos paradigmas. É a partir dessas continuidades que estabilizaram a essência dialética, que se pôde pensar nas leis de sua formação e de seu funcionamento com base na materialidade dependente da natureza. Tais leis são três e foram expressamente redigidas pelo autor, consistindo em: lei da passagem da quantidade à qualidade, lei da interpretação dos contrários e lei da negação da negação. Em última instância, na substância dessas leis se situa a necessidade da dialética frente à transformação social em dado momento da história humana.

Outras correntes de vieses diversos elaboraram seus entendimentos sobre a dialética que se mantinha, com revisões e aperfeiçoamentos, na garantia de suas repercussões. Do ponto de vista humano, pode-se dizer que a totalidade é imprescindível para a unificação dos indivíduos na construção coesa da história e de seus elementos indissociáveis, como a consciência crítica que impeça a alienação frente a uma tendência passageira. Ademais, a atividade dialética se sustenta na autocrítica e na reinterpretação dos contextos, visualizando uma realidade atual que se finca no passado e que reverbera no amanhã.

Em síntese, pode-se afirmar que a dialética enquanto aparato de estudo frequentemente se instrumentalizou em um alvo das ideologias, sendo por vezes considerada idealista, subversiva e até revolucionária. Em breve análise, a dialética é um último suspiro de humanidade diante da tentativa de destituir o ser humano de sua substância mais essencial, o que nos leva à conclusão, portanto, de que ela deve ser preservada em seu empreendimento de manutenção da esperança em nível epistemológico e histórico-social. Em uma reflexão final, presumo a partir de tudo o que foi lido, que a dialética não escolhe um lado ou um partido, ela é por si só o caminho a se seguir.

Disciplina: Metodologia da Pesquisa em Direito


Biografia:
Além de grande admiradora da escrita e da literatura, sou estudante de Direito na Universidade Federal de Santa Catarina e meu propósito no Recanto das Letras é traduzir conteúdos do mundo jurídico para a comunidade leitora, de modo a propagar conhecimentos sobre o Direito e propor reflexões. 
Número de vezes que este texto foi lido: 59439


Outros títulos do mesmo autor

Artigos Introdução à história do Direito Isadora Welzel
Artigos O embate teórico entre Smith e Mandeville Isadora Welzel
Artigos Adam Smith é ou não um liberal? Isadora Welzel
Artigos A crítica de Mandeville na Fábula das Abelhas Isadora Welzel
Artigos A importância de William Petty para a economia política Isadora Welzel
Artigos Economia e Crematística para Aristóteles Isadora Welzel
Artigos Síntese pessoal: Gandhi e a filosofia para a paz Isadora Welzel
Artigos Fichamento: O que faz o brasil, Brasil? Isadora Welzel
Artigos Análise do filme: Danton - O Processo da Revolução Isadora Welzel
Artigos Análise do filme: A Rainha Margot Isadora Welzel

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última

Publicações de número 131 até 140 de um total de 152.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Navegante - José Ernesto Kappel 59762 Visitas
A haste quebrada da flor - Maria 59762 Visitas
Os 7 Trabalhos de Maria - José Ernesto Kappel 59762 Visitas
O que sussurra o vento para a rosa? - Maria 59761 Visitas
Nau Sem Vento - José Ernesto Kappel 59760 Visitas
Por que não se aprende português: - Sérgio Simka 59760 Visitas
Passo Que Não Passo - José Ernesto Kappel 59760 Visitas
Antoninho Rapassi, meu Pai - Aquiles Rapassi 59759 Visitas
O Cônego ou Metafísica do Estilo - Machado de Assis 59758 Visitas
Apresentação do livro - Valdir Rodrigues 59758 Visitas

Páginas: Primeira Anterior Próxima Última