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Silêncios
Flora Fernweh

O caos é sonoro, mas a paz não sabe fazer silêncio. Em cada canto, a cólera do não dito e a vingança do calado estouram em catástrofes silenciosas, que se avivam aos poucos e apoderam-se de tudo aquilo que deveria ser exprimido. A quietude pode não ser conveniente onde reina o atrito e o urgente ímpeto de se fazer escutar sem ouvir ao redor. Os silêncios guardam algo de magistral em sua preciosidade simples, sendo um veículo para as grandes respostas da vida, cujas perguntas se elaboraram em remanso. Silenciar é tornar-se paciente, alcançando a sabedoria do tempo e rumando em busca dos mistérios que apenas a contemplação plena e pacífica podem desvendar. Com a mudez se aprende e se ensina, mas nem sempre a tranquilidade da voz e dos ecos é um incômodo. Para aqueles que compreenderam o poder do sossego quieto, toda palavra passou a vestir-se de superficialidades. Não se pode associar o silêncio com o vazio, posto que é o barulho que denota uma lacuna desabitada que distancia o sujeito de seu próprio ser e dificulta seu conhecimento de si. Também não se pode traçar um paralelo entre o silêncio e o lugar pequeno, visto que sua grandiosidade transcende qualquer espaço físico. O silêncio não é mera ausência de palavras, é no significado da palavra proferida em circunstância desaproveitada que a falta de silêncio acatou como lar. Há silêncios que demoram e que simulam eternidades; há outros que choram sua intensidade mas logo retornam à atribulação de uma vida; silêncios que adoecem na clausura da frase que lutou para ser externalizada; e há ainda aqueles que nunca se dissipam de nós, perceptíveis após longa contemplação nas naturezas mais raras e sublimes. Essa última espécie de silêncio é dádiva atribuída a algumas almas, que têm o poder tácito de disseminar a serenidade e realinhar a ordem ataráxica entre a balbúrdia de um mundo perturbado e a mansidão da harmonia revitalizadora. Ainda que sejam a essência do ser humano, silêncios são difíceis de serem suportados e principalmente, atingidos. No entanto, são eles que melhor ressoam quando as palavras insuficientes se vão, são eles que sobram e estendem a mão, sempre estarão lá à disposição de quem a eles recorrer em refúgio sincero.


Biografia:
Sobre minha pessoa, pouco sei, mas posso dizer que sou aquela que na vida anda só, que faz da escrita sua amante, que desvenda as veredas mais profundas do deserto que nela existe, que transborda suas paixões do modo mais feroz, que nunca está em lugar algum, mas que jamais deixará de ser um mistério a ser desvendado pelas ventanias. 
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