O céu estava límpido e estrelado. A ausência de nuvens era tanta que nem mesmo correndo os olhos em todas as direções encontrava-se, uma ou outra perdida entre as incontáveis estrelas. O clarão da lua fazia com que o uso de lampião para iluminar o caminho durante a noite fosse dispensado, pois, via-se tudo perfeitamente.
Depois do jantar Venâncio decidira fazer uma visita noturna ao vizinho mais próximo. A moradia ficava do outro lado do estreito riacho que, logo abaixo desaguava no rio da Várzea. Em suas margens havia um fio de capão. Atravessando-o, chegava-se a um descampado de porte mediano.
O jovem avisara os pais a respeito da visita, movera a tranca de madeira rústica que mantinha a porta trancada, e – num ato supersticioso colocara o pé direito no primeiro degrau da escada de madeira já um tanto gasta pelo uso e o tempo. Ao colocar o pé esquerdo no segundo degrau ouvira o grito de uma coruja Rasga Mortalha. O povo da região acreditava que o grito de uma Rasga Mortalha era um aviso de que alguém do lugarejo iria morrer, por isso o seu grito agourento causava pavor.
Embora fosse supersticioso Venâncio não retrocedeu em seu propósito. Ignorou o agouro da coruja, e seguira em direção ao riacho, e atravessara-o.
Ao chegar ao descampado uma luz do alto o circundara. O coração começara bater mais rápido. Em seguida vieram os arrepios, impulsionando-o, a correr.
O mesmo chegara ofegante ao seu destino. Batera na porta, o vizinho abrira, e levara um susto ao se deparar com Venâncio naquele estado.
Depois de relatar o ocorrido o vizinho fizera questão de acompanhá-lo até o local, onde o fato havia sucedido.
Assim que chegaram ao lugar, onde havia acontecido o episódio, o fleche de luz novamente descera do alto e circundara-os. Aterrorizados, ambos correram em direções opostas. Venâncio em direção a sua casa, e o vizinho em direção a sua.
Com o decorrer do tempo os moradores do lugarejo acabaram se acostumando com aquele fenômeno.
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